Existem várias formas de conhecer uma cidade, pela suas ruas e casarões históricos e pela beleza exuberante de suas matas. Mas nenhuma delas é tão digna quanto conhecê-la através das histórias dos personagens que a compõe. Cada povo tem sua história, suas curiosidades.
Em Andrelândia, cidade simples e aconchegante, dentre os seus 12 mil habitantes viveu João Batista de Abreu Neto, mais conhecido como Joãozinho Abreu. A história deste homem foi fantástica, não por conseguir milhões ou por possuir carros do ano. Sua riqueza era sua alegria e simplicidade, mais sofisticadas que qualquer luxo.
Poeta, compositor e exímio carnavalesco, João Batista escreveu seu capítulo na história de Andrelândia através das rimas dos seus poemas, das melodias de suas músicas e do samba, tocado pelo seu tamborim, instrumento pelo qual era apaixonado, e com ele comandava as escolas de samba da cidade.
Joãozinho Abreu foi um difusor da cultura. Fez parte da diretoria da Corporação Musical São Pio X, foi um dos fundadores do CECAM, encenava peças de teatro, nas quais seu personagem mais famoso era a Velha da Praça; vestia-se de Papai Noel no Natal, organizava ruas de lazer para as crianças e é um dos grandes nomes que está marcado na história do Carnaval de Andrelândia.
“Se eu pudesse transformar o meu o sonho em realidade deixaria tudo colorido pelas ruas da cidade, as árvores seriam de natal, o pessoal vestido de Papai Noel, as luzes seriam as estrelas que eu buscaria lá no céu...”. Quem lembra do carnaval de escolas de samba da cidade, com certeza deve lembrar da letra desta música, composta por ele, que foi tema do carnaval da Unidos de Monte Cristo, escola de samba do Rosário.
Muitos conheceram este homem também pela sua simpatia, quando vendia os bombons “Joãozinho e Maria” nas praças da cidade.
Nasceu no quarto dia de junho de 1957, em Ribeirão Vermelho, cidade do sul de Minas Gerais, mas viveu praticamente toda sua vida em Andrelândia, o que lhe rendeu o título de Cidadão Honorário da Terra de André. Terminou de escrever sua história no dia 21 de fevereiro de 2009, quando faleceu em pleno Carnaval.
Era apaixonado pela sua esposa Gorete, pelos seus filhos Allan, João Vitor e Marcelo, pela sua família, pelo Cruzeiro, pela música, pelas crianças, pela natureza, pelo Brasil e, principalmente, por Andrelândia. É dessa forma que Joãozinho Abreu foi um personagem importante para a cidade, uma história que merece ser contada, e que é bonita pela simplicidade.
Sonho de um
Andrelandense
[Joãozinho Abreu]
Sonhei que A ndrelândia
Era cidade industrial
E o apito das fábricas
Já era tradicional
No centro da Cidade
Só poluição
Era tanta polícia
Correndo atrás de ladrão
Ah! Neste sonho
Eu parecia um rei
Pois estava em Andrelândia
Terra que eu sempre amei
O povo aqui andava
Cheio do tutu
Comia caviar
Esqueceu feijão com angu
E pra sair na rua
Eu pegava a lotação
Saía do Rosário
E parava no Areão
Saía do trabalho
Era aquele corre - corre
Passava no buteco
E tomava um grande porre
No bairro São Dimas
Eu pegava o metrô
E ia lá pro Cristo
Paquerar o meu amor
Mas quando acordei
Fiquei impressionado
Olhando na Janela
Vi tudo parado
E vi que eu estava
Aqui no interior
Curtindo meus amigos
E falando só de amor
Ah! Neste sonho
Eu parecia um rei
Pois estava em Andrelândia
Terra que eu sempre amei.