A cidade pacata e tranquila, conhecida nacionalmente como a terra da nova beata Nhá Chica, se transformou neste fim de semana. Colorida de branco e amarelo, as cores da bandeira do Vaticano, Baependi abriu as portas para receber peregrinos de todo o Brasil para a cerimônia da festa de beatificação, presidida pelo prefeito da Congregação para Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato, que representou o Papa Francisco.
Vindos em caravanas ou sozinhos, a pé, de carro ou ônibus, o que se viu hoje em Baependi foram testemunhos de fé e muita emoção, chegando à cidade de vários pontos do Brasil. Os portões do local da cerimônia foram abertos às 12 horas.
Dona Maria Luiza e seu esposo Sílio Pinto Ribeiro, de Mogi das Cruzes (SP), foram dos primeiros a chegar para conseguir um lugar logo na frente. Emocionada, ela conta o motivo da sua devoção. “Nhá Chica intercedeu por mim e um milagre aconteceu na minha vida. O meu filho sofria de depressão. Não saia da cama e tentou suicídio duas vezes. Eu não sabia mais o que fazer. Numa Sexta-feira Santa, há cinco anos, eu estava sozinha na Igreja de Nhá Chica e rezei com muita fé. Foi quando vi a imagem dela sentada pegando meu filho no colo e ela me disse: ‘pode ir, seu filho está curado’. Eu cheguei em casa, meu filho já não estava mais na cama. Desde então ele está curado”, conta Maria Luiza, que já considera Nhá Chica uma santa”.
Cláudio José da Costa é de Três Corações, também no Sul de Minas, e trouxe toda a família para a cerimônia de beatificação. Para ele, esse momento é único na vida. “A gente reza com fé e é sempre um momento de grande emoção. Nhá Chica é um exemplo de quem mesmo no seu estado de pobreza, mesmo sem recursos, conseguiu ajudar as pessoas com sua simplicidade, seus conselhos e sua oração. É um exemplo de pessoa boa”, afirma.
De ônibus, Dona Franciene Rodrigues da Silva veio assistir de perto a beatificação. “Recebi uma graça. Meu pai, de 75 anos, estava com câncer no intestino há dois anos e eu não conseguia vaga para ele no hospital. Rezei pra Nhá Chica e consegui a vaga. Hoje meu pai está curado. Na vida, a gente tem muitos desafios e a gente não pode deixar de ter fé. Não poderia deixar de estar aqui”, conta emocionada.
Da terra natal de Nhá Chica, São João Del Rei, vieram os jovens Guilherme Bassi e Juliano Henrique. “É a beatificação da nossa conterrânea”, diz Guilherme. “Sempre quando vou a Aparecida (SP) passo por aqui. A fé em Nhá Chica passou pra gente de pai para filho. Até pouco tempo atrás não tinha comprovação de que Nhá Chica tinha nascido em São João. Há pouco tempo, faltando 3 dias para a festa de batismo de Nhá Chica que sempre fazemos lá, apareceu o livro de batismo nas mãos do Monsenhor Paiva que comprovou que foi numa igreja de um lugarejo de São João que nasceu a nossa santa. Aquilo pra gente foi uma emoção. Nhá Chica é um exemplo de humildade e fé, principalmente para os jovens. Ela não sabia ler, mas sabia rezar”, conta Juliano.
Antonia das Graças chegou sexta-feira em Baependi. Ela é de São Paulo e conheceu a história de Nhá Chica pela internet. “Vi uma reportagem e fui pesquisando. A história dela me encantou. O fato de ser negra, batalhadora, humilde. Isso tudo encanta a gente. Rezo o terço dela e isso me dá força. Andei tudo aqui, visitei a casa dela, na Igreja. É lindo. Isso nos motiva, nos dá força pra viver a vida”, afirma.
O momento de fé serve também para muitas pessoas trocarem experiências e compartilhar um pouco de sua devoção. Dona Jandira Margarida, de Varginha, conheceu dona Maria da Graça, de Guaratinguetá, do interior paulista, em Baependi. Enquanto espera a cerimônia, Dona Jandira tricota e conta as graças que já testemunhou. “Eu rezo sempre o terço de Nhá Chica e acompanho, há muito tempo, o processo de beatificação. Minha amiga tinha problema na perna e o médico ia amputar. Ela fez a novena de Nhá Chica e ficou curada. O próprio médico falou que era milagre. Às vezes faltava comida. A gente rezava o terço de Nhá Chica e chegava cesta básica. É incrível”, diz.
Ainda em vida Nhá Chica passou a ser aclamada pelo povo como 'a Santa de Baependi', por sua fé e clarividência. A causa de canonização da Venerável estava aguardando desde 2007 o anúncio de sua beatificação. A grande graça atribuída a Nhá Chica e aceita pelo Vaticano refere-se à professora Ana Lúcia Meirelles Leite, moradora de Caxambu. A professora e dona de casa foi curada de um grave problema congênito no coração, sem precisar de cirurgia, apenas pelas orações a Nhá Chica. O fato se deu em 1995.
A partir deste sábado, Nhá Chica se torna a primeira beata nascida em terras mineiras e é acolhida pelos católicos de todo o Brasil.
Agência Minas
Fotos: Correio do Papagaio