No dia 14 de novembro, aconteceu em Bom Jardim de Minas, no Casarão Recanto do Saber e da Experiência Dr. Celso Nardy Chaves, a cerimônia de lançamento do livro “Estudos Históricos sobre o Caminho do Comércio” em comemoração aos 210 anos de criação da Rota do Caminho do Comércio, pela “Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas e Navegação do Estado do Brazil e seus Domínios Ultramarinos”, órgão integrante da administração joanina, que determinou a abertura do “Caminho do Comércio”, com o objetivo de facilitar a ligação de Minas Gerais à cidade do Rio de Janeiro e possibilitar, de forma mais rápida e econômica, o abastecimento da corte, cuja população havia aumentado consideravelmente com a chegada da família real no Brasil, em 1808.
O Livro é de autoria de Marcos Paulo de Souza Miranda e Rodrigo Magalhães, que pesquisam o trajeto há mais de dez anos.
O Evento de lançamento do Livro e Comemorativo dos 210 anos do Caminho do Comércio foi oficialmente aberto pelo prefeito Municipal de Bom Jardim de Minas, Joaquim Laércio Rodrigues, e em seguida o vice-prefeito José Francisco Matos e Silva fez breves considerações sobre Antônio Correia de Lacerda e a fundação de Bom Jardim de Minas. Na sequência aconteceram às palestras dos autores do livro, Marcos Paulo de Souza Miranda e Rodrigo Magalhães. Ouve também a palestra sobre o trajeto fluminense “Onde a estrada encontra o rio: história das localidades nascidas junto ao Porto do Comércio”, por Annibal Magalhães e a palestra “Reminiscências de uma estrada”, por José Luiz Teixeira.
Após a solenidade oficial de comemoração dos 210 anos do Caminho do Comércio foi entregue a todos os participantes do evento um exemplar do livro, que foi autografado pelos autores e carimbados pelo prefeito e vice-prefeito, com o Selo de Bom Jardim. No final do livro contém o “Passaporte do Caminho do Comércio”, onde os viajantes que percorrerem a rota poderão colher os carimbos dos municípios por onde passaram.
O encerramento do evento contou ainda com a participação da Corporação Musical União Bonjardinense e a visita interna ao Casarão Recanto do Saber e da Experiência Dr. Celso Nardy Chaves.
UM NOVO CAMINHO REAL
O Caminho Novo, aberto no início do século XVIII por Garcia Rodrigues Paes era muito longo e não conectava o Rio de Janeiro diretamente com a principal área de produção de alimentos de Minas Gerais (Sul de Minas e Campo das Vertentes), tornando-se obsoleto e inadequado no início do século XIX, o que também motivou a criação do Caminho do Comércio, que era muito mais curto e econômico, pois os impostos cobrados na divisa entre as Capitanias eram bem mais baratos.
ALIMENTOS, FERRAMENTAS E ESCRAVOS
Fazendo uso da rota que foi concluída em 1816, as tropas partiam da Comarca do Rio das Mortes, cuja sede era em São João del-Rei, mas abrangia vasta extensão de Minas Gerais, conduzindo bois, porcos, toucinho, galinhas e queijos, e retornavam do Rio de Janeiro trazendo produtos como sal, azeite, vinho, vinagre, bacalhau, lampiões, ferramentas e vidros. Os registros históricos demonstram, ainda, que grandes quantidades de escravos eram transportadas do litoral em direção às fazendas mineiras para o abastecimento de mão de obra.
A cada três léguas de distância, aproximadamente, existiam ranchos rústicos rodeados de estruturas singelas que permitiam o pernoite dos viajantes, que sempre contavam com uma bica de água limpa, estruturas de pedra para fogueiras e árvores tais como a araucária em suas proximidades, cujos galhos secos funcionavam como lenha de fácil combustão, essencial para minorar o frio nas serras e nos grotões da região da Mantiqueira.
ROTA DE COMERCIANTES E CIENTISTAS
A rota tinha início na localidade de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (atual distrito de Nova Iguaçu-RJ), cortava a Reserva Biológica Federal do Tinguá subia as serras, passava pelo porto de Ubá (atual Andrade Pinto, distrito de Vassouras), seguia em direção a Valença e depois passava pelos antigos arraiais mineiros de Rio Preto (região de Varejas e Funil), Bom Jardim (passando por Taboão), Turvo (atual Andrelândia), Madre de Deus, São Miguel do Cajuru, Rio das Mortes Pequeno e, finalmente, chegava à Vila de São João del-Rei, percorrendo cerca de 280 km.
Além de comerciantes, as pesquisas indicam que também muitos cientistas estrangeiros percorreram o trajeto durante o século XIX, com o francês Auguste de Saint-Hilaire (1819), os ingleses Robert Walsh (1829) e Charles James Fox Bunbury (1835) e o alemão Enst Hasenclever (1839), que deixaram registros importantes sobre o caminho.
Muitos vestígios e alguns trechos originais do Caminho do Comércio ainda existem e estão sendo mapeados por um grupo de pesquisadores que atua na região do Alto Rio Grande, em Minas Gerais.
Segundo os autores, o Caminho do Comércio é uma importante rota oficial surgida no período colonial e ao seu longo existem grandes atrativos culturais e paisagísticos, além de vários locais para a prática do turismo ecológico e cultural. As ruínas centenárias de Iguaçu Velho, a natureza exuberante da Serra do Tinguá e as fazendas coloniais da região de Valença e Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro; as belas cachoeiras e paisagens serranas da região compreendida entre Rio Preto e Bom Jardim, incluindo a famosa gruta do Funil; a arquitetura colonial, os sítios arqueológicos, os doces, o queijo e a cachaça de qualidade produzidos na região de Andrelândia; as fazendas e igrejas centenárias, as serras e as tradições folclóricas da região de Madre de Deus de Minas; a bela capela de São Miguel do Cajuru, com pinturas artísticas do renomado pintor José Joaquim da Natividade; as ruínas da antiga Capela do Rio das Mortes, onde foi batizada a milagrosa Nhá Chica e a imponente arquitetura tricentenária de São João del-Rei, idealizada pelos inconfidentes mineiros como a capital da sonhada república da liberdade, são pequenos exemplos do potencial turístico desse caminho, cujo itinerário precisa ser melhor conhecido e divulgado.
Você encontrará mais informações sobre o livro no endereço: http://caminhodocomercio.blogspot.com/2021/11/antiga-rota-de-ligacao-entre-minas.html