Cerca de 100 pessoas participaram, no último final de semana (21 e 22 de maio), do 2º Encontro de Grupos dos Alcoólicos Anônimos (AA) do Distrito 5, na Comunidade Palavra de Deus, em São Lourenço. O Distrito 5 reúne os municípios de São Lourenço, Caxambu, Jesuânia, Carmo de Minas, Itajubá e Baependi. O objetivo do encontro foi apresentar e discutir as 12 tradições que orientam alcoólicos e sociedade a conviverem melhor.
Na palestra de encerramento, o médico José Nicoliello Viotti, um dos fundadores dos 26 grupos de AA no sul de Minas, falou sobre a Síndrome da Dependência do Álcool (SDA), doença que atinge os alcoólicos. Sim, o alcoólatra não é uma pessoa com desvio de caráter ou desvio mental; não bebe por causa dos problemas. O alcoólatra é uma pessoa com predisposição genética e hereditária para desenvolver a dependência.
O alcoolismo é uma doença crônica. Assim como a diabete e a hipertensão, não tem cura, mas pode ser controlada. “Não existe ex-alcoólatra”, lembra o médico. No caso do alcoolismo, “não são os problemas que desencadeiam a doença, é a doença que desencadeia os problemas”, disse o Dr. Viotti. Segundo ele, existem quatro tipos de bebedores: os ocasionais, os sociais, os habituais (que podem ser moderados ou excessivos) e os doentes alcoólicos. Esses últimos representam 10% da população brasileira e têm como principal característica a tolerância à bebida.
A SDA é uma doença de natureza bio psico social e espiritual que se desenvolve em fases. A primeira é a da adaptação a bebida. Em seguida vêm as fases de tolerância e de compulsão (desejo irresistível de beber); e, por fim, a dependência. De acordo com o Dr. Viotti, as características do alcoolismo são a negação e a perda de controle. Ao negar a dependência, o indivíduo usa argumentos para justificar a ingestão do álcool (problemas no trabalho, conjugais, falta de dinheiro...) e minimiza as quantidades ingeridas ( tipo “só tomei uma dose”).
O papel do AA
Apesar de ser reconhecido como doença pela Organização Mundial da Saúde, ainda são poucas as informações sobre o alcoolismo. Para do Dr Viotti, o Alcoólicos Anônimos “é uma das alternativas mais bem sucedidas para tratamento da doença”. O médico de Baependi participa dos movimentos de fundação dos grupos de AA, no sul de Minas desde 1974, mas é conhecido em todo o País, pelo seu trabalho.
A organização nasceu nos Estados Unidos em 1935, espalhou-se pelo mundo e chegou ao Brasil em 1946. A finalidade do AA é manter a sobriedade, por meio da abstinência total do álcool, de seus frequentadores e ajudar outros alcoólicos a se recuperaram. A eficiência desta irmandade está na sua organização, ao mesmo tempo simples e avançada até para os dias de hoje.
A base dessa organização é o respeito à individualidade. No AA, cada um é responsável por si e todos são responsáveis por seguir os 36 pontos que regem a irmandade no mundo inteiro sem qualquer alteração desde 1935. São 12 Conceitos, que regulam a gestão dos grupos; 12 Tradições, que indicam como manter a unidade dos grupos e como relacionar-se com o mundo exterior; e os 12 Passos (espirituais), que os alcoólicos devem seguir para evitar a bebida.
Para ingressar em qualquer grupo de AA, basta querer parar de beber. O anonimato individual é uma das 12 tradições e, no AA, é sinônimo de humildade. A finalidade é preservar a identidade do outro e a unidade do grupo. “Os princípios estão acima da personalidade”, explica o Dr. Viotti. Ninguém fala pelo AA. Isso não quer dizer, porém, que o AA seja uma sociedade secreta. Abrir o anonimato é uma decisão e um direito de cada indivíduo e, geralmente, é utilizada para atrair novos membros e divulgar o trabalho do grupo.
Outra tradição importante é a da autossuficiência. Cada grupo se mantém com as doações voluntárias de seus membros. Não são aceitas colaborações externas. Todas as despesas, inclusive os aluguéis das salas onde se reúnem, são pagas com essas doações. O AA também não se envolve com movimentos sociais, políticos ou religiosos.
Quando fala em espiritualidade, a irmandade se refere a um Ser ou alguma coisa superior, de acordo com a crença de cada um. Os 12 passos espirituais são um guia que começa com o reconhecimento da impotência do alcoólico diante da bebida, passando pela identificação e reparação dos erros.
Nas reuniões fechadas para o público externo, os membros compartilham experiências, forças e esperanças. Uma terapia diária que ajuda a evitar o primeiro gole por 24 horas.
O preconceito e a falta de informação, no entanto, ainda impedem a sociedade de ajudar os portadores da SDA. Reuniões públicas, como a que aconteceu no último final de semana, em São Lourenço, são importantes para passar informações aos não alcoólicos sobre a doença e sobre o tratamento. Mas, como observou o Dr. Viotti, ainda se registra uma presença pequena da comunidade nesses encontros.
Fonte: Divulgação AA