Por Paulo Paranhos
Considerada a principal estância hidromineral do país, pela quantidade de fontes de água com propriedades químicas diferentes, Caxambu foi desbravada no século XVIII por bandeirantes que seguiam o curso do rio Verde em direção às minas de ouro atravessando por Baependi e alcançando o rio Grande, através da trilha deixada pioneiramente na serra da Mantiqueira por Jacques Felix.
A palavra “caxambu” é encontrada sob as mais diversas significações e em Minas Gerais, em São Paulo e no Rio de Janeiro era comum tal designação para conformações geológicas idênticas àquela que temos na cidade de Caxambu. Para grande parte de etnólogos e filólogos, a definição mais aceita é aquela que considera a palavra originária de alguma língua ou dialeto africano e não uma contribuição linguística nativa, mesmo porque a sua elevação lembra a forma de um tambor africano.
Em 1814, mesmo ano de elevação de Baependi à condição de vila, surgem as primeiras notícias sobre as águas minerais consideradas miraculosas para alguns males físicos. A tradição oral sustenta que nesse ano existiam na localidade duas fazendas: uma de D. Luiza Francisca Sampaio – a fazenda das Palmeiras – e outra de Joaquim Medronho – a fazenda do Caxambu. Um dos principais cronistas de Caxambu do século XIX, o Dr. Henrique Monat, anotou em sua obra que teria alcançado as terras de Caxambu um importante viajante estrangeiro, não se tendo conhecimento ao certo se seria Peter Lund, Saint-Hilaire, von Martius, ou o barão de Eschewege, que, após ter conhecimento da água encontrada nas faldas do morro do Caxambu, atestaria a sua eficácia curativa, recomendando-a para aqueles que sofriam de males do fígado, principalmente. Esse fato foi narrado ao Dr. Monat por um dos principais médicos que clinicaram em Baependi, o Dr. Manoel Joaquim e que, adiante, também atenderia no arraial de Caxambu.
Não cabem dúvidas de que o surgimento das águas foi um importante veículo para a formação da urbe, dando ensejo ao aparecimento das primeiras edificações ao redor das mesmas, conferindo-se a João Constantino Pereira Guimarães a primazia de ter ali construído a primeira casa regular, daí porque se considera ter sido ele o fundador da vila em 1843.
Um ano depois, Felício Germano de Oliveira Mafra, dando continuidade à obra de João Constantino, que se afastara do empreendimento, desbravou a mata, encontrando 3 fontes. De acordo com o mesmo Dr. Henrique Monat, depois de mil esforços, Mafra descobriu uma fonte, estaqueou-a, roçou o mato, fez sarjetas, esgotos, começou a canalizar o ribeirão, que alagava constantemente o brejo; construiu na fralda do morro perto do bosque um rancho de boas madeiras, para abrigar os operários e as pessoas, que durante o dia vinham de Baependi em procura da água. Fora, desse ano, o descobrimento das atuais fontes D. Pedro, D. Isabel e D. Leopoldina.
O ano de 1868 revela um fato que marca sensivelmente a história das águas minerais de Caxambu: a presença da Princesa Isabel, que para ali fora a conselho de seu médico particular, o visconde de Santa Isabel, conhecedor das propriedades curativas das “águas virtuosas”. Chegou em 17 de novembro com seu esposo, o conde d’Eu, além de uma grande comitiva, atraída pela fama das águas para a cura de uma anemia que a tornava infértil. Por sua devoção à Santa Isabel da Hungria, fez criar uma subscrição de fundos necessários para a construção de uma capela em louvor à santa em um promontório do povoado, lançando a pedra fundamental em 22 de novembro do mesmo ano, dando mostras de esperar um milagre com relação ao mal que a afligia.
Fonte D. Isabel – 1904
Várias foram as tentativas, na segunda metade do século XIX, para a concessão da exploração das águas, senão vejamos: em 1875 os direitos foram abertos, pelo governo da província, à iniciativa privada, com concessão ao conde de Lages, a Antônio Pereira Pinto e José Meireles Alves Moreira, que não levaram adiante a empreitada; em 1881 acertou-se contrato com Vicente Maria de Paula Lacerda, tendo o engenheiro logo desistido do privilégio a ele concedido. Em 1883 foi a vez do Dr. Saturnino Simplício de Salles Veiga que, logo adiante, cedeu o privilégio ao Dr. Lavandeira, engenheiro, o qual, sem condições para organizar a companhia para explorá-la, vendeu seus direitos à Empresa que se organizou em 1886, a Cia. das Águas Minerais de Caxambu e Contendas, sob a presidência do barão de Maciel, tendo como diretores o Dr. Polycarpo Rodrigues Viotti, Antônio Penha de Andrade e o coronel Alexandre Pinto.
Uma das primeiras entradas do Parque das Águas – 1900
Em 1890, mais precisamente no dia 26 de maio, o Dr. Saturnino de Salles Veiga vendeu a concessão das águas ao conselheiro Francisco de Paula Mayrink pelo preço de 800:000$000, sendo essa concessão de direitos aprovada pelo presidente do Estado em 26 de junho de 1890. Entre 1890 e 1905 realizaram-se também importantes obras, com a captação de novas fontes e a instalação do engarrafamento pelo processo da gaseificação, com gás extraído das próprias fontes.
Captação da fonte Duque de Saxe – 1895
Em 1892 as águas seriam submetidas a uma apurada análise, com a vinda de uma comissão de químicos e clínicos indicados pela Academia Nacional de Medicina para atestarem as propriedades medicamentosas. Faziam parte da comitiva: João Batista Lacerda, César Diogo, Borges da Costa, Joaquim Pinto Portela e Francisco de Castro. Nesse mesmo ano as águas minerais receberiam prêmio na Exposição Internacional de Chicago, Estados Unidos.
Em 1910 a Empresa de Lambari, Cambuquira e Caxambu recebeu diploma de honra na Exposition Universelle de Bruxelles, pelas águas da Fonte Intermitente (Beleza). A estátua da Ninfa existente próxima à entrada do balneário foi doada ao parque na mesma época e pelos mesmos motivos da premiação.
Atestada a qualidade das águas minerais de Caxambu, aumentou sensivelmente não só a propaganda das mesmas na grande imprensa do Rio de Janeiro, como também deu ensejo à construção de um moderno edifício para o engarrafamento, nesse mesmo ano de 1912 (foto a seguir).
Neste ano comemoram-se os duzentos anos de surgimento das águas minerais de Caxambu, afamadas por serem indicadas para a cura de graves enfermidades, principalmente aquelas relacionadas ao fígado, conforme atestamos nas mais variadas literaturas médicas do século XX.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais