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Cruzília - Notícias
20/03/2013 11h00

Personagens que fazem parte da Nossa História - Juca Maciel

Juca da Farmácia deixou seu legado na cidade de Cruzília

por Caio Junqueira Maciel

Muita gente achava que o Juca da Farmácia São Sebastião se chamava Joaquim, pois ele tratava cada pessoa do sexo masculino de Joaquim e do sexo feminino de Terezinha. Mas seu nome real era José Sebastião Nunes Maciel, filho de Cel. Cornélio Maciel e d. Leonina Nunes Maciel.  Não se formou em medicina, como seus dois irmãos Dr. José Maria e Dr. Nunes: profissionalizou-se como farmacêutico (estudou em Itajubá e se formou em Belo Horizonte), e nessa profissão sustentou seus treze filhos (perdeu uma menina, aos 11 meses), todos diplomados: Wanda, Marisa, Lygia, Marcélo, Nadia, Martha, Miralda, Walter, Jucyra, Luiz Carlos (Caio), Ana Maria, José Maurício e Lúcia Helena.

Juca, nascido em 4 de janeiro de 1910, em S. Sebastião da Encruzilhada, hoje Cruzília, foi casado com Ana dos Reis Junqueira,  conhecida como Nicota, que nascera no dia 3 de janeiro de 1914. A simetria acompanhou esse casal até à morte, pois ele falece no dia 5 de julho (de 1998) e ela no dia 6 de julho (de 2003). Datas são detalhes importantes na vida do Juca: antes de haver facebook, ele tinha uma agenda em que fixava aniversário de praticamente toda a cidade, seus familiares, amigos, fregueses. Não havia dia em que ele não comentava: hoje é aniversário de fulano; amanhã é de ciclano.

Sua farmácia era ponto de encontro de velhas gerações. Ali se abancava o Dote, que era seu funcionário, o Gundo, o sô Gustavo, o Wadico, o Chiquinho do Morro Grande e outros. Época de Natal e de passagem de ano, muita gente chegava até a farmácia com mogango nos braços: era para trocar por uma Folhinha de Mariana e um almanaquezinho, que até hoje seus filhos distribuem na farmácia do Brejinho. Naqueles tempos de uma só farmácia na cidade, Juca levantava altas horas da noite para atender sua freguesia.

Mas não somente a farmácia lhe ocupava os dias: de manhãzinha, ele pegava sua caminhonete Chevrolet e, carregando Janjão e Garrucha, ia para o sítio S. José, de onde voltava ali pelas dez da manhã. Antes de chegar à cidade, passava pela fábrica de laticínios do Sorensen, onde tinha grande popularidade junto aos funcionários. Ao subir a esquina do cinema, dava três buzinadas, sinal conhecido por todos ali no centro: isso significava que teria que haver gente no alpendre de sua casa para recolher as frutas e verduras trazidas da chácara. À noite, o compromisso era com o Cine Vitória, do qual ele era sócio-proprietário, juntamente com seu primo e amigo Paulo Maciel Arantes. Ia ao cinema toda noite e ainda assistia aos matinês. É verdade que cochilava muito, mas ficava sempre atento quando a “fita” trazia beldades como Ava Gardner e Deanna Durbin. Uma de suas últimas preferências foi Candice Bergen. (Aliás, fora da tela, Juca gostava de conversar com mulheres bonitas, como as que trabalhavam em bancos e supermercados. Quem há de condená-lo por isso?). No cinema, contava sempre com a ajuda de Alceu Maciel, que era locutor, ao lado de Juarez Penha. Muitas vezes, quando a “fita” arrebentava e a galera chiava, ele tinha que subir até o palco e solicitar compreensão do povo. Saía aplaudido.

Seu Juca também adorava o CRE, clube de que ele foi tesoureiro por muitas décadas. Ele mesmo guardava na Casa Velha ou Casa da Baiá os materias usados nos grandes bailes daquela época, em que Cruzília recebia os Biriba Boys e o Cassino de Sevilha. Muitas vezes, ele era o responsável pela confecção dos programas, recorrendo a um português castiço, algo parnasiano. Além do CRE, outra paixão do Juca era o Sete de Setembro Futebol Clube (no Rio, torcia discretamente para o Flamengo). Ia sempre ao estádio, levando sua inseparável boina e uma almofadinha. Ao primeiro toque na bola, tirava seu relógio do bolso (que hoje está comigo) e conferia o horário, e já previa quando iria encerrar o primeiro tempo. Quando o Sete era campeão, ligava o auto-falante do cinema e saudava os atletas. Durante jogos da Copa do Mundo, também costumava colocar o rádio no aparelho do cinema, para que a cidade pudesse ouvir a irradiação.

Como o seu Mirinho, da Casa Furtado, seu Juca não perdia enterro. Tocava a marcha fúnebre na igreja e ele se levantava, ia até a porta da farmácia para ouvir melhor. Na hora do funeral, lá estava ele, circunspecto, acompanhando o cortejo. Assim também fazia nas procissões, devoto que era de São Sebastião, de onde lhe veio o nome.

Espírito religioso, espírito de desportista, grande senso social, caridoso, bairrista, orgulhoso dos filhos que estudavam e se formavam, seu Juca pontuou sua vida com um jeito mineiro de ser, um jeito cruziliense de amar com discrição mas com firmeza, lealdade, companheirismo. Hoje, ao lado da antiga Casa Velha, em frente ao CRE, há uma rua que leva seu nome. Ela começa ali e termina na saudade de cada um que o conheceu.

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