12/03/2017 12h20
Com a recessão, empresas pararam de pagar impostos
A deterioração do cenário macroeconômico nos últimos anos obrigou as empresas, sobretudo as pequenas e médias, a escolherem entre o pagamento de fornecedores ou o recolhimento de impostos. Na opinião do economista Juarez Rizzieri, professor sênior da Faculdade de Economia e Administração da USP, a decisão geralmente pende para o lado da sonegação.
"Normalmente, a empresa para de pagar os impostos municipais e estaduais e tenta ao máximo pagar as dÃvidas com a Receita Federal, onde ela sabe que a punição é rápida e maior. Mas essa busca pela sobrevivência vem destruindo a segurança jurÃdica do ambiente corporativo", diz o especialista.
No caso de Humberto Gonçalves, dono de uma indústria de forja e estamparia há 24 anos na cidade de São Paulo, a recessão levou à suspensão completa de pagamento de impostos. "Os últimos quatro anos estão crÃticos. Teve um mês em que eu não consegui pagar o ICMS de 18%. No outro mês eu estava, portanto, devendo o novo mês, o mês passado e mais 20% de juros pelo atraso. Daà para frente, a situação se desenrolou como uma bola de neve", conta ele, que contabiliza uma dÃvida de mais de R$ 1 milhão em impostos.
Para Marcio Morgado, da rede de franquias Nat Fruit Ice, as dÃvidas com o Fisco resultaram na perda de crédito com os fornecedores. "Eu vivo de revender produtos para os franqueados e da cobrança dos royalties sobre a receita deles. Mas parei de cobrar royalties, se não eles quebram, tenho de comprar tudo à vista. Se pagar os impostos, não tenho o que vender."
Setor
Por ramo de atividade, a pesquisa do Ibracem e da FGV-SP aponta as empresas de comércio como lÃderes em irregularidades - só 4% dos empreendimentos não têm pendências. O ramo industrial vem na sequência, com 91,83% de negócios irregulares, empatado com o setor de serviços. O problema atinge até empresas de auditoria e contabilidade, que teoricamente têm no controle da burocracia e do pagamento de impostos sua atividade principal.
Quase 90% delas têm hoje algum tipo de irregularidade, incluindo as multinacionais de auditoria, como a americana Grant Thornton. A empresa tirou uma certidão negativa em novembro, com validade de seis meses. No entanto, consta em seu registro uma pendência na prefeitura de São Paulo.
"Nós temos um parcelamento na prefeitura e, em virtude disso, não é possÃvel fazer a emissão da certidão de maneira online", diz o sócio da área de tributos da empresa, Murilo Pires. "É por esse motivo que temos uma certidão válida e, na medida em que está para vencer, é preciso levar ao conhecimento do órgão, apesar de ele já ter essa informação, mostrar todos os documentos que estamos honrando com o pagamento para que seja possÃvel a emissão de uma nova certidão", explica Pires, que faz um paralelo do ambiente de negócio do PaÃs com o da Ãndia. "Sem dúvida, (o Brasil) é um PaÃs complexo."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo