13/03/2017 11h00
Idade mínima sobre gradativamente no exterior
Diante do envelhecimento de sua população e de um déficit bilionário entre os recursos que entram e os que saem, o Brasil se prepara para alterar as regras de sua Previdência Social. Ao estipular a idade mÃnima de 65 anos, conforme a proposta do governo federal, o PaÃs segue a tendência da maioria dos paÃses desenvolvidos, que também vêm unificando as idades entre homens e mulheres.
Já o tempo mÃnimo de contribuição, que deve passar de 15 para 25 anos, é consideravelmente maior do que o praticado lá fora, bem como a marca necessária para ter acesso integral ao benefÃcio, de 49 anos.
Nos paÃses desenvolvidos, cuja maioria já passou por um perÃodo de transição demográfica, a idade mÃnima é dominante - e vem subindo. A marca de 65 anos, que o Brasil quer adotar, já é praticada em vários lugares, como Canadá, Dinamarca, Suécia, Austrália, Japão, Finlândia, Espanha e Nova Zelândia.
Em muitos deles, a idade vai aumentar nos próximos anos, de forma gradativa. Na Alemanha e na Dinamarca, a idade mÃnima será de 67 anos em 2022; na Austrália, em 2023; na Espanha, em 2027; no Canadá, em 2029.
Em outros paÃses, a idade mÃnima já é maior do que 65 anos, e o patamar também deve aumentar. Na Grécia, castigada por uma grande crise econômica, a idade mÃnima subiu para 67 anos, como uma das exigências da União Europeia para o pacote de ajuda fiscal. Nos Estados Unidos, subirá de 66 para 67 anos até 2022.
Na Itália, onde homens se aposentam com 66 anos e 3 meses e mulheres com 63 anos e 9 meses, haverá uma unificação, para ambos, de 67 anos em 2021. Os dados são do levantamento Pensions at a Glance 2015, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para o professor de Direito Previdenciário da PUC-SP Walter Balera, a idade mÃnima é necessária para a reforma do sistema previdenciário brasileiro, mas teria de ser implementada de forma gradativa, como vem ocorrendo no exterior. "Muitos paÃses estabeleceram o modelo de aumentar a idade mÃnima mediante o aumento da expectativa de vida. O pioneiro foi o Reino Unido, depois vieram outros, como Itália e Espanha", afirma. "Deve, sim, haver um aumento da idade, mas com algum espaçamento, de forma paulatina. Mudar de uma hora para a outra tanto a idade mÃnima quanto o tempo mÃnimo de contribuição quebra a expectativa das pessoas, ainda mais com um mercado de trabalho que as expulsa cada vez mais cedo."
Além disso, pondera Balera, a expectativa de vida do brasileiro, atualmente na casa dos 75 anos, é inferior à observada nos paÃses ricos - na média dos 34 paÃses que integram a OCDE, já está acima dos 80 anos. Assim, o brasileiro teria menos tempo para desfrutar do benefÃcio. "Calibrar a idade mÃnima pela expectativa de vida seria uma boa opção", reforça o professor.
Tempo de contribuição
Se a reforma for aprovada no Congresso, além de atingir a idade mÃnima de 65 anos, será necessário ter contribuÃdo por pelo menos 25 anos para ter direito à aposentadoria. Com esse tempo, o brasileiro vai receber 76% do benefÃcio, sendo que só conseguirá se aposentar com o valor integral quem contribuir por 49 anos.
Os paÃses desenvolvidos são menos rÃgidos nesse quesito. Em alguns, nem sequer há tempo mÃnimo de contribuição: o trabalhador recebe proporcionalmente em relação ao tempo que contribui. Em outros, há um tempo mÃnimo, mas bem menor que o brasileiro. Na Alemanha, é preciso trabalhar apenas cinco anos para ter acesso a alguma fatia da aposentadoria. Nos EUA e no Reino Unido, 10 anos. Na Itália, 15 anos.
Em relação ao tempo necessário para ter acesso ao benefÃcio integral, no Reino Unido, são necessários 35 anos. Na SuÃça, 44 anos para homens e 43 para mulheres. No Japão, campeão da longevidade, 40 anos, sendo que o tempo mÃnimo de contribuição é de 15 anos.
Mas nos paÃses em que é possÃvel se aposentar com menos tempo de contribuição, o benefÃcio também é menor, podendo até ser inferior ao salário mÃnimo - o que não é permitido no Brasil. "O sistema brasileiro é significativamente mais generoso que os sistemas de Previdência de outros paÃses em razão da indexação ao salário mÃnimo, que teve crescimento real de mais de 70% em uma década, e da alta proporção média do benefÃcio em relação ao salário", diz Jens Arnold, economista sênior da OCDE.
Nos paÃses da organização, por exemplo, o valor médio que um trabalhador de renda média obtém com a aposentadoria representa 53% de seu salário, segundo a OCDE. Já no Brasil, a aposentadoria equivale, em média, a 70% dos rendimentos do trabalhador. "Há dois modos de enxergar a Previdência. Em alguns paÃses, há um link mais direto entre o que você coloca e o que você tira. Já em outros, a Previdência é vista como uma poupança mÃnima, que tem de ser complementada com outras reservas e previdências privadas."
Um exemplo, cita Arnold, é o Reino Unido, onde o aposentado recebe em média uma fatia de apenas 21,6% de seu salário. "O Brasil vai ter de caminhar nessa direção, de ver a Previdência como um complemento", diz. "O problema é que os fundos de previdência privada não são tão grandes como em outros paÃses e não contemplam a maior parte da população." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo