22/02/2017 13h09
Novo acordo mundial reduzirá em 14% custos de comércio no Brasil
A Organização Mundial do Comércio estima que a entrada em vigor de um novo acordo de facilitação de comércio irá reduzir os custos de exportação e importação no Brasil em até 14%. Nesta quarta-feira, 22, o tratado entrou em vigor, depois que o 112ºpaÃs ratificou o acordo já assinado em 2013.
O acordo prevê dezenas de medidas de desburocratização de exportações e importações, permitindo um fluxo de bens pelo mundo e reduzindo custos para a indústria. Para que ele entrasse em vigor, dois terços dos membros da OMC precisavam ratificar o tratado, o que ocorreu nesta quarta-feira. Ainda que os valores não sejam alvo de um consenso, a OMC estima que, no médio prazo, os ganhos associados ao tratado seriam de US$ 1 trilhão para a economia mundial.
No caso do Brasil, as estimativas apresentadas pela OMC sugerem que o custo de exportar e importar pode ser reduzida em 14%, um avanço importante para os principais operadores. "Não tenho dúvidas de que o acordo fará o produto brasileiro mais competitivo", disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo.
Em sua avaliação, o exportador brasileiro ganha "nas duas pontas". Ao sair do PaÃs, o produto exportado terá um custo de logÃstica menor e, ao chegar ao consumidor no exterior, o acordo também prevê maior facilidade para os fluxos comerciais. "Ele ganha na facilitação da exportação e na entrada do produto em seu mercado de destino", disse Azevedo.
Questionado se a medida poderia ter um impacto para ajudar o Brasil a sair da recessão, Azevedo indicou de forma positiva. "Ele vai aprimorar as cadeias produtivas brasileiras. Hoje, você produz dependendo de insumos importados e a previsibilidade da entrada do insumo, seu custo, tudo isso é importantÃssimo para ter uma cadeira produtiva eficiente", afirmou.
"Se implementado de forma adequada, esse acordo irá gerar um grande ganho", disse, lembrando que o setor privado brasileiro teve um papel importante em conduzir o governo a apoiar as iniciativas, em 2013. "Em muitos lugares, e isso não algo exclusivo do Brasil, as autoridades tem dificuldades em mudar suas práticas, mudar o que fazem", disse. "Elas acham que já estão fazendo tudo muito bem. Mas o operador econômico, do setor privado, é quem está muito bem posicionado para determinar onde reduzir custos, diminuir a burocracia", disse.
Azevedo, quando ainda era o embaixador do Brasil na OMC em 2012, chegou a alertar que o acordo deveria ser feito em conjunto com outros entendimentos, como a redução de subsÃdios agrÃcolas, e não de forma isolada como ocorre agora. "Para o Brasil e muitos outros, esse (acordo de facilitação de comércio) não é um tema que se equilibra sozinho", disse em 7 de junho de 2012. Para ele, resultados isolados do acordo não seriam "realistas". "Se queremos avançar nisso, precisamos ser sensÃveis à s necessidades de fazer progresso em áreas de interesse de outros (paÃses)", disse Azevedo na época.
Questionado nesta quarta-feira em uma coletiva de imprensa sobre esse seu posicionamento em 2012, o brasileiro deixou claro que falava em nome do governo brasileiro, e não em sua capacidade individual. "Foi o embaixador do Brasil quem disse aquilo. Não Azevedo", justificou, ironizando que ele chegou a dizer para sua mãe quando era criança que não iria namorar com meninas.
O brasileiro ainda destacou que, desde 2012, negociações ocorreram para equilibrar o projeto. "Não há inconsistência", disse, entre o que ele declarou há cinco anos e sua postura atual. Para ele, a OMC continua buscando uma forma de lidar com as distorções no setor agrÃcola.
Ele ainda insistiu que o tratado é "a maior reforma comercial já feito neste século" e que manda "uma mensagem poderosa sobre o poder do comércio para gerar empregos".
De uma forma geral, a OMC estima que os custos de comércio no mundo serão reduzidos em 14,3%. "Isso é uma novidade fantástica", disse. Segundo ele, são os emergentes quem mais ganharão com o acordo. As estimativas apontam que os paÃses em desenvolvimento poderiam aumentar em 20% a gama de seus produtos exportados, diversificando suas economias.
O tratado também abre as portas para que essas exportações entrem em um terço a mais de mercados pelo mundo. Segundo Azevedo, até o ano de 2030, o tratado promete aumentar em 2,7 pontos percentuais a expansão do comércio. Para o PIB mundial, o impacto pode chegar a 0,5% por ano. "Isso seria maior que a eliminação de todas as tarifas existentes pelo mundo", disse o brasileiro.
EUA
Classificando o acordo de "histórico", Azevedo ainda mandou um recado sobre o fato de que governos estão mostrando seu "compromisso com o sistema multilateral". Na OMC, a entrada em vigor do tratado chega no mesmo momento em que a administração de Donald Trump insiste em medidas protecionistas e ameaças a parceiros comerciais.
Azevedo evita falar sobre as propostas do presidente dos Estados Unidos. Mas insiste que nada do que ele tem declarado cria uma situação que não poderia ser administrada e que foi o governo americano um dos primeiros a ratificar os instrumentos. "Não quero comentar. A equipe comercial (dos EUA) ainda está sendo criada. Mas estamos prontos para conversar. Estou confiante de que a OMC oferece instrumentos para lidar com essas preocupações que sido levantadas", disse.
Trump tem feito declarações de que irá lutar contra o comércio desleal e reequilibrar acordos que, em sua avaliação, estão sendo prejudiciais aos interesses americanos. "A OMC se baseia na convergência. Não é algo que não possamos administrar. Opiniões diferentes é a nossa realidade diária", apontou.
"Não sei qual polÃtica comercial virá. Honestamente, não sei", disse Azevedo. "Mas não conheço ninguém que seja a favor do comércio injusto", afirmou, lembrando que em sua carreira como negociador já ouviu em diversas ocasiões governos falar sobre a necessidade de rever acordos. "Nada disso é novo", reforçou. Em sua avaliação, "incertezas existem em épocas de transições". "Com o tempo, encontramos formas de seguir adiante. Foi feito antes. Não vejo nada agora que impeça esse progresso", completou.
Fonte: Estadão Conteúdo