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Esportes
31/05/2015 11h20

Isolado, Vizer renuncia à SportAccord e endurece críticas ao COI

O austríaco Marius Vizer decidiu travar uma queda de braço com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e acabou derrotado de forma vexatória. Neste domingo, cerca de 40 dias após dar início ao maior racha do movimento olímpico nas últimas décadas, o dirigente do judô, isolado, finalmente renunciou à presidência da SportAccord e ao cargo que tinha no Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.

O anúncio veio por forma de carta, publicada no site da entidade guarda-chuva de milhares do atores do esporte internacional. Depois de falar com o vento por semanas, desautorizado por aqueles que imaginava defender e criticado pelos que representava, Vizer manteve as críticas ao sistema esportivo vigente e, nas entrelinhas, acusou o COI de utilizar as mesmas práticas investigadas na Fifa. De forma indireta, ainda acusou seus pares de corrupção.

Talvez aproveitando-se da crise vivida pelo futebol, Vizer resolveu voltar suas armas contra o COI. "Quando eu emigrei do comunismo, em 1988, arrisquei minha vida e da minha família para viver em um mundo democrático, um dos valores supremos é a liberdade de expressão e de opinião. Nos últimos meses, eu descobri que no mundo livre existem, ainda, uma grande estrutura onde o valor supremo é o silêncio", escreveu ele, destacando a última palavra com letras maiúsculas.

O racha entre Vizer e o movimento olímpico começou na abertura do importante congresso anual da SportAccord, quando os principais líderes do esporte mundial se reúnem. Em seu discurso em Sochi (Rússia), o austríaco, presidente da Federação Internacional de Judô, chamou o sistema vigente de arcaico, fez duras críticas ao COI e sugeriu a criação de um evento concorrente aos Jogos Olímpicos.

Já no dia seguinte, a Associação das Federações Internacionais de Esportes Olímpicos (ASOIF), que representa todos os esportes olímpicos de verão conjuntamente, se desfiliou da SportAccord. A carta de desfiliação, na ocasião, foi assinada por todas as federações ligadas à ASOIF, com exceção da de judô (IJF), presidida por Vizer.

"Um princípio importante do esporte que me encanta é honra. Eu me retiro com honra e para a honra do esporte e da sua credibilidade na sociedade. Espero que um dia o esporte se torne um sistema totalmente transparente, um código moral e um modelo para a sociedade. Tudo o que eu propus é certo e espero ter aberto uma porta que estava fechada por um século, e espero que permaneça aberta para sempre em benefício do esporte e seus valores", escreveu ele neste domingo.

Nas últimas semanas, dia após dia, as federações foram realizando suas reuniões internas e oficializando suas desfiliações da SportAccord, que tendia a acabar. Principal evento organizado pela entidade, os Jogos Mundiais de Combate de 2018, que seriam em Lima (Peru), foram cancelados.

Para tentar evitar a debandada, há 10 dias Vizer lançou sua própria agenda de reformas no COI, com 20 itens, entre os quais aumento no repasse de verbas para as federações internacionais e autorização para que os presidentes destas entreguem medalhas nos Jogos Olímpicos. Um dos pontos mais polêmicos da lista de Vizer estava a premiação em dinheiro para os medalhistas olímpicos.

Enquanto aguardava resposta para o pedido de uma reunião com Thomas Bach, presidente do COI, Vizer recebeu uma carta de Francesco Ricci Bitti, presidente ad ASOIF, em que o dirigente italiano deixava claro que o austríaco falava com as paredes. "Sua agenda, mais uma vez confirma a ambiguidade do seu papel como presidente da IJF e o seu desejo de representar outras federações internacionais como presidente a SportAccord. Ela também demonstra uma falta de entendimento da governança e do funcionamento do espírito olímpico", escreveu Ricci.

Aquela carta demonstrava que Vizer não tinha mais nenhum poder, tirando-lhe dele a autoridade para falar em nome dos esportes olímpicos: "Peço-te educadamente que se abstenha de falar publicamente em nome das federações internacionais, uma vez que elas não se sentem representados pela SportAccord e, mais importante, não concordam com a sua opinião ou a posição que você tem tomado."

Vizer respondeu com insinuações na carta deste domingo: "Para aqueles que me acusam de não conhecer bem o 'movimento olímpico' (aspas de Vizer) eu posso dizer que eu conheço o movimento esportivo internacional muito melhor do que eles acham, porque eu dediquei minha vida toda ao esporte, servindo voluntariamente, por paixão e amor, sem vantagens pecuniárias como outros... A parte que vocês dizem que eu não conheço, para ser honesto, eu também não quero conhecer", escreveu ele, acusando indiretamente os dirigentes do esporte internacional.

Na carta, Vizer atira para todos os lados e, mais uma vez indiretamente, relaciona o COI ao escândalo de corrupção da Fifa: "É a parte secreta e misteriosa na sombra da organização de grandes eventos desportivos, um jogo sujo, cujas implicações podem ser vistas nos dias de hoje em algumas organizações, mas em uma escala muito pequena."

O dirigente cita a votação em um site especializado na cobertura da política esportiva internacional, o Inside The Games (por dentro dos Jogos, em tradução literal), em que 90% do "mundo livre" apoiou suas críticas. Ignorado solenemente depois de suas "20 propostas para a agenda 2020", Vizer continua a carta perguntando se ninguém concorda com ele. "Com que pontos vocês não concordam comigo?", questiona. Deverá ficar mesmo sem resposta.

Fonte: Estadão Conteúdo
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