31/10/2022 13h20
Neymar e o governo Federal: entenda a dívida do jogador da seleção com a Receita
A comemoração da vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contou com uma provocação a Neymar, notório apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). O coro de "Ei, Neymar, vai ter que declarar" foi entoado por algumas das pessoas que foram à Avenida Paulista, na noite deste domingo, para celebrar o triunfo do petista nas urnas. O grito faz referência à s dÃvidas do craque da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain com a Receita Federal.
Em abril de 2019, o pai do jogador, o empresário Neymar da Silva Santos, foi recebido por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para "prestar esclarecimentos" sobre um processo contra o jogador no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O encontro ocorreu seis dias após o atleta entrar com um recurso no conselho pedindo a anulação de um processo que lhe cobrava multa no valor de R$ 8 milhões.
Horas após a reunião no gabinete do presidente, o pai de Neymar publicou em sua conta no Instagram uma imagem de uma notificação da Receita, de janeiro, informando que a empresa Neymar Sport e Marketing passaria a constar no monitoramento diferenciado da Receita, por estar entre os 10 mil maiores contribuintes do Brasil.
A multa a Neymar foi aplicada pelo Fisco em 2015, mesmo ano em que Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 188,8 milhões do jogador, então no Barcelona, e de empresas ligadas a ele. À época, auditores fiscais da Receita Federal constataram infrações nas declarações do atleta no perÃodo de 2011 a 2013. Entre os descumprimentos citados estavam: omissão de rendimentos do trabalho, omissão de rendimentos de fontes do exterior, omissão de rendimentos pagos pelo Barcelona, falta de pagamento de Imposto de Renda e outros.
Em 2017, o Carf, última instância administrativa para recorrer de autuações da Receita, julgou o caso e reduziu de R$ 188 milhões para R$ 8 milhões a dÃvida do atleta com o Fisco, entendendo que a maior parte das sanções não se aplicava. Vale ressaltar que o bloqueio inicial foi majorado em 150%, porcentual que só pode ser aplicado quando o Fisco entende que houve sonegação, fraude ou conluio. Ainda insatisfeito com a cobrança, Neymar recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, e aguarda o julgamento.
Neymar declarou apoio ao candidato Jair Bolsonaro à s vésperas do primeiro turno, quando publicou um vÃdeo dançando um jingle do presidente em sua conta no Tik Tok. Em entrevista recente ao "Flow Podcast", o então candidato Lula brincou dizendo que ele estaria com medo de vê-lo novamente no cargo porque o Brasil "vai saber que o Bolsonaro perdoou a dÃvida de Imposto de Renda dele".
"Obviamente, o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele. Ele até está com um problema na Espanha. Mas isso não é problema do presidente, é da Receita Federal", disse o petista.
DERROTA DE BOLSONARO E MANCHETES INTERNACIONAIS
A derrota de Bolsonaro nas urnas no domingo fez Neymar ganhar destaque na imprensa internacional. Jornais da França e da Espanha repercutiram a provocação ao jogador na comemoração na Avenida Paulista. O site francês Sport.fr classificou a vitória de Lula como "terrÃvel derrota" para o jogador do PSG.
"Este não é o resultado que Neymar esperava. Nas últimas semanas de uma campanha muito dura, o capitão da seleção brasileira não escondeu seu apoio a Bolsonaro, o que lhe rendeu várias crÃticas", escreveu o periódico.
O diário espanhol As lembrou que o camisa 10 do Brasil prometeu ao presidente Bolsonaro dedicar a ele o seu primeiro gol na Copa do Mundo do Catar. A promessa aconteceu durante a participação do atleta do PSG durante uma live com o próprio Bolsonaro, que buscava conquistar o voto dos mais jovens, a poucos dias do segundo turno das eleições.
"VITÓRIA" EM TRIBUNAL NA ESPANHA
Apesar dos problemas fiscais no Brasil que a famÃlia do jogador terá de resolver ou pagar, Neymar obteve "vitória" em um tribunal fora do PaÃs na última sexta-feira. A Promotoria da Espanha retirou todas as acusações contra o brasileiro em um processo que investigava corrupção e fraude na transferência do jogador do Santos para o Barcelona, em 2013. O craque era alvo de um pedido de dois anos de prisão e de multa no valor de 10 milhões de euros (cerca de R$ 52 milhões). A decisão também se estende aos demais réus do caso, entre eles, o pai do craque.
O Grupo DIS detinha 40% dos direitos econômicos do atleta na época em que ele deixou o Santos rumo ao Barcelona, em 2013. A venda foi anunciada por 17,1 milhões de euros (R$ 88,7 milhões, pelo câmbio atual) e a empresa recebeu uma fatia de 6,84 milhões de euros. Depois disso, o Barcelona informou que o valor real da transação foi de 57 milhões de euros, e a diferença de quase 40 milhões de euros foi depositada para a empresa N&N, em nome dos pais do atleta.
Em seu depoimento, o jogador de 30 anos reiterou as decisões do seu pai e empresário. "Meu pai sempre cuidou das negociações de contrato. Eu assino o que ele pede", disse o craque, de 30 anos. "Meu pai sempre cuidou de tudo isso, sempre foi o responsável por isso."
CATAR
Neymar terá seu nome confirmado por Tite no dia 7 de novembro como um dos 26 jogadores que defenderão o Brasil na Copa do Mundo do Catar. Será sua terceira Copa. Na primeira, em 2014, no Brasil, ele se machucou na partida contra a Colômbia e ficou fora da semifinal diante da Alemanha, na derrota de 7 a 1.
Em 2018, a seleção foi eliminada pela Bélgica, em derrota por 2 a 1, nas quartas de final. Neymar fez uma Copa ruim e virou meme entre a criançada pelo seu "cai cai" em campo. Seu estafe teve de retrabalhar sua imagem. Agora, ele parece mais concentrado no PSG.
Fonte: Estadão Conteúdo