29/05/2015 14h50
Rival desiste e Joseph Blatter é reeleito presidente da Fifa
Joseph Blatter, de 79 anos, foi eleito para seu quinto mandato no comando da Fifa nesta sexta-feira antes mesmo da disputa do segundo turno das eleições, em razão da renúncia do seu único opositor, o prÃncipe jordaniano Ali Bin al-Hussein. Mas o suÃço comandará por mais quatro anos um entidade falida moralmente, com a ameaça da fuga de patrocinadores, um racha inédito com a Europa e uma oposição interna muito superior ao que esperava.
Nesta sexta, com o apoio de pequenas federações, o cartola suÃço se manteve no cargo, apesar da crise e das prisões de cartolas. Para tanto, ele superou o jordaniano Ali bin Hussein no primeiro turno por 133 a 73 votos. No entanto, como precisava de 140 votos para ser reeleito, Blatter teria que disputar o segundo turno, logo na sequência. O prÃncipe, contudo, desistiu antes do inÃcio da nova disputa. O suÃço entrou para a Fifa em 1976 e, desde 1998, é seu presidente.
As detenções de cartolas nos últimos dias em Zurique chegaram a dar um impulso para a campanha de Ali. Mesmo num curral eleitoral de Blatter, como na América do Sul, Ali chegou a ganhar alguns votos, como o do Uruguai e do Peru. A CBF também indicou que estava decepcionada com Blatter e se dizia inclinada a votar no jordaniano. Os números das urnas mostraram, porém, que o novo reinado de Blatter terá uma forte oposição, em razão dos 73 votos obtidos por Ali.
"Não sou perfeito. Mas vamos trabalhar. Prometo que vou dar uma Fifa forte a meu sucessor", disse. Ele também rejeitou a acusação de estar em idade avançada. "A idade não é um problema. Tem muita gente de 50 anos mais velha que eu", atacou.
Blatter assume o cargo em uma entidade em sua pior crise. A Europa chegou a alertar nesta semana que vai reunir seus membros no próximo fim de semana para determinar até que ponto vão manter a relação com a Fifa. Um dos representantes da Uefa na entidade, David Gills, já indicou que vai renunciar de seu cargo na Fifa diante da permanência de Blatter. Um dos riscos é de que seleções e clubes europeus se recusem a participar de torneios da Fifa, num racha inédito no futebol mundial.
Para tentar evitar a pressão de Blatter sobre os eleitores, principalmente os menores, a federação americana pediu que o voto fosse secreto. Por anos, Blatter tem distribuÃdo recursos para as federações e cartolas pelo mundo, o que lhe garantiu a permanência no cargo nos últimos 17 anos.
Antes da votação, membros da CBF indicaram que consideraram a atitude de Blatter como uma "traição" diante da falta de apoio a José Maria Marin e à crise de corrupção na entidade. O Brasil, depois de declarar seu apoio à Blatter, estava inclinado a votar por Ali.
Mas Blatter mantém o cargo em uma entidade falida moralmente e dividida. Antes da votação, ele pediu por "unidade" e prometeu criar novos organismos dentro da entidade para fortalecer o futebol. Chegando a se emocionar e arrancando palmas, fez um apelo. "Eu só quero ficar com vocês", disse, com a voz embargada e tremendo. "Não precisamos de revolução, mas de evolução", afirmou.
"As pessoas me chamam de responsável por tudo. Está bem. Então assumo isso e vamos juntos para que, ao final de meu mandato, eu possa entregar uma Fifa forte, fora da tempestade", disse. "Eu prometo uma Fifa forte", insistiu. "Precisamos fortalecer as fileiras e ir adiante", lamentou. "Vamos recolocar a Fifa nos trilhos e vamos começar amanhã mesmo com isso", disse.
O cartola também rejeitou a tese de que estava por muito tempo na Fifa. "Mas o que é a noção de tempo. O tempo é eterno", disse. Para ele, os 17 anos de presidência foram "curtos".
Blatter insistiu que foi ele quem estabeleceu regras para tentar controlar o comportamento dos cartolas e garante que existe uma divisão de poderes dentro da entidade. "Mas não podemos controlar todos fora da Fifa", disse. Ele também alerta que cabe à s confederações regionais agir para se reformarem. "Só assim poderemos ter maior controle. Em nenhum paÃs um tribunal pode agir sozinho", insistiu.
ENCRUZILHADA - Ao discursar antes da eleição, Ali havia feito um duro alerta e proliferou ataques velados ao cartola que venceu o pleito. "Tudo está em jogo", declarou. "A Fifa não existe numa bolha. O mundo nos olha. A Fifa não é uma pessoa", alertou. "Não poderia ver um momento mais decisivo para Fifa que este e temos o direito de um novo começo", insistiu.
"A mudança não ocorre em um dia. É um processo. Precisamos de uma cultura que apoie transparência", apelou. "Estamos numa encruzilhada e precisaremos de um lÃder para arrumar essa confusão em que estamos", insistiu.
Ele também havia prometido "não se esconder". "Vou assumir as responsabilidades", disse. "A Fifa não é uma empresa", contra-atacou Ali ao comentário de Blatter de que a entidade é "uma empresa".
RICO - A pior crise da história da Fifa coincide com seu momento de maior exuberância financeira. Durante o Congresso da entidade nesta manhã em Zurique, a Fifa apresentou suas contas e apontou para uma receita recorde de US$ 5,7 bilhões. s graças ao sucesso comercial da Copa do Mundo no Brasil. No total, os lucros somaram US$ 338 milhões.
Entre 2011 e 2014, contratos de TV aumentaram em 43%, contra elevação de marketing de 29%. Em média, a receita aumentou em 37%, uma taxa inédita.
Hoje, a Fifa está sentada em um fundo de reserva de US$ 1,5 bilhão. "A Copa do Mundo foi muito boa para nossos parceiros comerciais", comemorou o vice-presidente da Fifa, Issa Hayatou diante das 209 federações. Em apenas dez anos, as reservas aumentaram em cinco vezes.
Hayatou ainda apontou que parte desses lucros é compartilhado aos cartolas de todo o mundo. Em quatro anos, a entidade distribuiu às federações nacionais e regionais um total de US$ 261 milhões. "Todos lucram com o sucesso da Fifa", disse. Ele ainda garantiu que, entre 2015 e 2018, os resultados serão mantidos, assim como a distribuição de dinheiro.
Já o auditor chefe da Fifa, Domenico Scala, faz seu alerta sobre o controle das atitudes dos dirigentes. Segundo ele, nos últimos anos a Fifa adotou uma série de medidas para garantir transparência e combater corrupção. "Mas para que possamos vencer, precisamos acabar com a cultura de corrupção que existe", declarou.
Fonte: Estadão Conteúdo