01/06/2015 07h35
Unanimidade no Brasil, Lucas Lima admite: 'Preciso fazer mais gols'
Lucas Lima é uma unanimidade no futebol brasileiro. Criativo, mas se esforça para marcar. Habilidoso, mas joga para o time. Considerado o melhor camisa 10 do Brasil por Muricy Ramalho, o atleta de 24 anos já despertou interesse do Palmeiras e Cruzeiro, mas diz que só sai do Santos para atuar na Europa.
Mas essa admiração é coisa recente. Aos 16 anos, saiu de MarÃlia, rodou 800 quilômetros para iniciar a carreira na Chapecoense. Depois, rodou pelo interior paulista. Em vários clubes, recebeu salários com atraso e recorreu ao pai para pagar as contas. Foi parar no Racing, da Espanha, mas não se adaptou e voltou a Limeira.
Poderia ter sido do Palmeiras. Em 2011, recusou um convite para jogar pela equipe B do clube. Dois anos depois, recebeu uma proposta inferior à do Santos, seu clube atual. Teve uma oportunidade no Inter de Porto Alegre, de Dorival Júnior, mas foi emprestado ao Sport em 2013. Foi aà que ele começou a ser notado.
Foi um dos destaques do acesso do time à Série A, com sete gols e nove assistências em 47 partidas. Esses números e a capacidade de organização chamaram a atenção do Santos, que o contratou no inÃcio de 2014 por R$ 5 milhões. Precisou de uma temporada e meia para o ocupar o status de principal jogador do Santos, rótulo que disputa, ombro a ombro, com o atacante Robinho.
Nesta entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira, esse jogador com poucos defeitos mostra uma insatisfação. "Meu objetivo é fazer mais gols", diz.
Estadão - Na semana passada, você fez uma tatuagem do pênalti que cobrou e deu o tÃtulo paulista o Santos. Por que?
Lucas Lima - Foi um momento que marcou a minha vida e fiz questão de registrar. Será sempre uma lembrança muito boa, tão boa que vai ficar marcada na minha pele.
Estadão -Depois de receber tantos convites, por que continuou no Santos?
Lucas Lima -Eu fiquei para alcançar o objetivo de chegar à seleção brasileira e conquistar tÃtulos. Conseguimos o tÃtulo paulista neste ano. Sei que tenho muito a percorrer, mas acho que estou no caminho certo. Eu me sinto muito bem no Santos.
Estadão -Só sai se for para a Europa?
Lucas Lima -Tenho vontade de jogar na Europa e deixei bem claro que quero sair uma hora. O primeiro pensamento é só sair do Santos para fora do Brasil.
Estadão -Nem sempre você foi admirado como hoje. Como foi o seu inÃcio?
Lucas Lima -As grandes dificuldades que vivi foram antes de chegar ao Internacional. Rodei pela Chapecoense, José Bonifácio, América, Inter de Limeira. É difÃcil se manter em um clube grande.
Estadão -Quais eram essas dificuldades?
Lucas Lima -Eu joguei muito tempo sem receber. Às vezes, não tÃnhamos a mÃnima estrutura de trabalho. Essa realidade foi superada, mas me ajuda muito a valorizar um pouco as coisas que estou conquistando.
Estadão -Pode dar algum exemplo dessas dificuldades, no cotidiano?
Lucas Lima -Um dos meus amigos desistiu da carreira porque o jantar era arroz com mortadela frita.
Estadão -Sem receber, como pagava as contas?
Lucas Lima -Minha famÃlia me ajudava. Foram meus pais (Roberto Carlos, metalúrgico, e Sueli, enfermeira) que me deram apoio. Sou muito grato por isso.
Estadão -Isso significa que sua famÃlia nunca teve grandes dificuldades financeiras?
Lucas Lima -Meus pais sempre trabalharam e não tÃnhamos uma vida com exageros, mas nunca deixaram falta nada.
Estadão -Quais as lembranças que você tem da infância?
Lucas Lima -Eu até falo sobre isso com minha mãe. Lembro de um parquinho perto de casa e que gostava muito de chuteiras. Jogava bola na rua todos os dias.
Estadão -Era bom aluno na escola?
Lucas Lima -Não gostava muito de estudar. Faltava muito. Ainda bem que a bola deu certo, porque não gostava de estudar.
Estadão -Nos momentos de lazer e nas entrevistas, você mostra que se preocupa com a imagem. Você é vaidoso?
Lucas Lima -Gosto de me vestir bem e me cuidar. Gosto de roupas de estilo.
Estadão -Você se incomoda com as comparações com o David Beckham?
Lucas Lima -Não. Ele é meu Ãdolo. Fiz uma tatuagem na nuca inspirada numa que ele tem. A imagem é importante para o jogador, sempre estamos na televisão.
Estadão -Beckham é uma inspiração para dentro de campo também?
Lucas Lima -Sim, é um grande jogador. Como cobrador de faltas, era excelente.
Estadão -Qual é o seu ponto forte hoje?
Lucas Lima -Procuro ser um jogador dinâmico. Ao mesmo em que estou atacando, procuro estar pronto para defender também. Além disso, tenho um bom passe, bom lançamento.
Estadão -Como você pode melhorar?
Lucas Lima -Acho que tenho de aparecer mais na cara do gol. Posso fazer mais gols. Quero dar um pouco mais de profundidade ao meu jogo.
Estadão -Por que o Brasil tem poucos meias de qualidade?
Lucas Lima -O problema principal é o treinamento da base. Falta uma orientação desde as escolinhas. Sempre busquei e gostei de armar o jogo, dar a assistência. Em muitas vezes, deixei o gol em segundo plano. Existem muitas formas de ajudar o time, além do gol.
Estadão -Você fala tem facilidade para se expressar. Gosta de ler?
Lucas Lima -Eu leio pouco. Leio mais a BÃblia (é evangélico). Até tento ler os outros livros, mas acabo esquecendo e trocando o livro pelo videogame. Acompanho as notÃcias também pela internet. Claro que é bom sempre ler alguma coisa para melhorar, mas não tenho o hábito de ler todos os dias.
Estadão -Gosta de polÃtica?
Lucas Lima -Até um certo ponto. Não sou aquele cara que vai atrás e procura saber de tudo o que acontece. Mas temos de nos interessar pelo Brasil e fazer nosso papel como cidadão.
Estadão -Como cidadão, o que acha da situação do PaÃs hoje?
Lucas Lima -É difÃcil viver no Brasil. Hoje, nós, jogadores de futebol, temos uma condição muito boa, mas sabemos que não é assim com todo mundo. Tem muita pobreza no Brasil, isso é fácil de ver.
Estadão -Qual seria a solução?
Lucas Lima -Diminuir as diferenças que existem entre pobres e ricos. Acho que uma saÃda seria aumentar o número de emprego. O governo precisa dar oportunidades para todo mundo, não só para alguns.
Fonte: Estadão Conteúdo