10/04/2023 07h10
Aliança após ataques na Nova Zelândia mobiliza ações para prevenir violência
Após dois ataques sucessivos em escolas, em que uma professora e quatro crianças foram mortas em São Paulo e em Santa Catarina, o Brasil se vê diante da urgência de buscar soluções para lidar com a disseminação do extremismo e as redes online de ódio. Estudos e experiências fora do PaÃs podem inspirar soluções.
Apostar só em polÃcia, câmeras e detectores de metal, dizem especialistas, não resolve. "Traz segurança para a sociedade, mas não muda o que as pessoas sentem nem diminui o discurso de ódio", diz Telma Vinha, que pesquisa violência escolar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Dentro dos colégios, diz ela, é preciso criar nova cultura, com vÃnculos, atenção à saúde mental, programas de combate ao bullying e valorização de professores. Fora da sala de aula, o desafio é rastrear e frear as ameaças externas à sala de aula, sobretudo na internet.
Uma das iniciativas mais respeitadas no combate ao extremismo online é a Christchurch Call to Action. Criada em 2019, após ataques a duas mesquitas que deixaram 51 mortos na Nova Zelândia, a coalizão reúne 120 paÃses, entre governos, empresas de tecnologia, redes sociais e ONGs.
Executados por um supremacista branco, os ataques a duas mesquitas foram em 15 de março de 2019, na hora das orações, quando os templos estavam lotados. Toda a ação foi transmitida online, por 17 minutos, e compartilhada milhares de vezes, o que estimulou outros assassinos a filmarem crimes e publicarem nas redes.
REAÇÃO
Menos de dois meses após a chacina, a então primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, juntamente com o presidente francês Emmanuel Macron, criou a Christchurch Call. Ela falou pessoalmente com vários lÃderes mundiais e os principais executivos do Facebook, Apple, Microsoft e Twitter.
Os participantes se comprometeram a aplicar leis, regulamentos e ações técnicas para reprimir a disseminação de discurso de ódio, terrorismo e violência online. Entre as medidas, criar um centro unificado de denúncias e acompanhamento de casos e debater protocolos sobre como a mÃdia noticia ataques.
O Estadão decidiu não publicar nome e foto do agressor, além vÃdeos dos recentes atentados. A decisão se baseia em estudos que mostram que essa exposição pode motivar um efeito de contágio, uma vez que a visibilidade é buscada pelos autores como um prêmio.
Outra das ações da Christchurch Call foi financiar estudos sobre o funcionamento de algoritmos online. A ideia é reunir informações especÃficas para formular regulamentos mais eficientes. O grupo incentiva também pesquisas sobre soluções tecnológicas, por exemplo, para o rastrear grupos extremistas online.
INTEGRAÇÃO
"Trata-se de tema complexo. Não é algo que nenhum setor possa tratar isoladamente", disse Jacinda, no lançamento da iniciativa. Após sair do governo, ela assume este mês o posto de enviada especial da Christchuch Call.
O Brasil não integra a coalizão. "Não estamos inseridos nos fóruns globais contra extremismo e terrorismo online", diz a pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate PolÃtico no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP), que pesquisa as redes de ódio. Procurado pelo Estadão, o Ministério da Justiça não disse se planeja aderir.
Outra referência no assunto é o Global Internet Forum to Counter Terrorism (GIFCT). Criado originalmente por Twitter, Facebook, Microsoft e YouTube, o fórum conta hoje com várias outras plataformas, além de organizações da sociedade civil e governos.
"Se um conteúdo com extremismo violento é postado nos paÃses que fazem parte do GIFCT, automaticamente o banco de hashtags do GIFCT é acionado, as plataformas, notificadas e o conteúdo é automaticamente derrubado", afirma Michele. Ela cita como exemplo o vÃdeo do massacre em Christchurch, que não circula nesses paÃses. Sempre que alguém tenta postar, as plataformas já derrubam mesmo antes de uma denuncia. "Como o Brasil não está inserido, esse protocolo de segurança não está em ação aqui." Outro desafio é o idioma: o banco de hashtags do GIFCT, por exemplo, usa só palavras-chave em inglês.
BRASIL
Nesta semana, o governo federal anunciou R$ 150 milhões para reforçar a patrulha escolar e também a mobilização de 50 policiais para fazer o monitoramento de ameaças online. Como o Estadão mostrou na semana passada, o Ministério da Justiça mandou aos Estados 134 alertas de atentados em escolas desde 2021, com base em monitoramento feito pelo laboratório de operações cibernéticas da pasta.
Outro plano do governo é criar um disque-denúncia especÃfico para estes casos. Um grupo de trabalho também vai propor mais medidas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo