03/04/2023 19h30
Atualiza: Vinícola Aurora se diz envergonhada e pede desculpa a trabalhadores
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A nota publicada em 03/03 continha uma incorreção: O nome da empresa Fênix Serviços de Apoio Administrativo havia sido repassado pela assessoria de comunicação do Ministério Público do Trabalho e foi citado de forma equivocada em versão anterior da reportagem. O MPT corrigiu a informação e este texto foi atualizado em 30/03/2023 com o nome correto da empresa: Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. Segue texto corrigido:
Uma semana depois do resgate de mais de 200 trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão e que atuavam em vinÃcolas de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, a Aurora publicou carta na qual se diz envergonhada e pede desculpas não só à s vÃtimas, mas à toda população brasileira. A vinÃcola diz trabalhar em "programa robusto" para modificar dinâmicas.
"Os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda* nos envergonham profundamente. Envergonham e enfurecem. Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada serÃamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princÃpio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos. Entretanto, ainda que de forma involuntária, sentimos como se fora isso que fizemos", diz o texto, publicado no site da VinÃcola.
Outras duas vinÃcolas gaúchas envolvidas no caso são a Garibaldi e a Salton. O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT) deu dez dias para que as três expliquem a relação delas com a terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, que foi flagrada mantendo trabalhadores em condição análoga à escravidão. Ambas alegaram não ter conhecimento das irregularidades.
O proprietário da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, Pedro Augusto de Oliveira Santana, chegou a ser detido, mas foi liberado após pagar fiança de quase R$ 40 mil. Em nota à imprensa, a defesa afirma que "qualquer conclusão neste momento é meramente especulativa e temerária, uma vez que os fatos e as responsabilidades devem ser esclarecidas em juÃzo".
Depoimentos aos quais o Estadão teve acesso revelam condições de trabalho degradantes e agressões fÃsicas contra quem se insubordinasse. Os trabalhadores, em sua maioria moradores da Bahia, não tinham dinheiro para irem embora, pois os empregadores controlavam suas finanças.
Os trabalhadores prestavam serviços nos parreirais para colheita de uvas nas vinÃcolas. Segundo eles, era normal trabalhar 14 horas por dia e ter valores descontados. Os depoimentos também revelam alimentação com comida azeda e castigos fÃsicos, como choque a laser.
Na carta, a Aurora destacou que repudia a situação com todas suas "forças". "GostarÃamos de apresentar nossas mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação. Ninguém mais do que eles trazem, nos ombros curados pelo Sol, o peso de uma prática intolerável, ontem, hoje e sempre. A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, à s custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos."
Programa robusto
A empresa disse trabalhar em "programa robusto que deve implementar mudanças substanciais nas dinâmicas da VinÃcola Aurora". "A VinÃcola Aurora não medirá esforços para colaborar com a construção de um mundo em que o respeito, o orgulho e a realização façam parte da vida de cada trabalhador", afirmou.
Fonte: Estadão Conteúdo