Elas integram equipe que pesquisa isobutanol, que pode substituir gasolina.
Grupo manipulou DNA de bactéria para ela absorver carbono e criar álcool.
Duas cientistas brasileiras integram a equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) que estuda como produzir isobutanol, um álcool que pode substituir ou diminuir o uso da gasolina em automóveis e outros veículos, usando o gás carbônico, um dos responsáveis pelo aquecimento global.
Trabalhando há dois anos com a pesquisa, Cláudia Gai, de 33 anos, está fazendo no MIT o seu segundo pós-doutorado. O primeiro ela fez na França, no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Toulouse. Para chegar ao isobutanol, ela e os outros cientistas manipularam os genes de uma bactéria encontrada no solo, a Ralstonia eutropha, para que ela fosse capaz de produzir o álcool.
Quando são reduzidas as fontes de nutrientes desta bactéria, ela passa a absorver o CO2 e criar compostos de polímero, um "bioplástico" com características parecidas com o plástico do petróleo. Ao manipular o DNA do micro-organismo, os pesquisadores conseguiram fazer com que ele criasse isobutanol em vez do "bioplástico".
"Um dos motivos para estudar esse combustível [isobutanol] é que é compatível com a gasolina. Ele pode ser usado em motores de carro, inclusive já foram feitos testes", diz Cláudia. Se a pesquisa for bem-sucedida, no futuro a estrutura montada para o uso de gasolina (dutos, bombas, postos de combustível) precisaria de poucas adaptações para receber o álcool, devido à semelhança entre os combustíveis, pondera a pesquisadora.
O isobutanol já foi usado experimentalmente em corridas de automóveis e até em testes com aviões, realizados pela Força Aérea dos EUA em julho deste ano. "Temos que achar outras opções do que só queimar carvão, gasolina e petróleo", avalia a cientista, enfatizando a poluição gerada pela queima destes combustíveis. Para ela, um dos motivos para estudar o álcool é que a demanda por biocombustível no mundo está crescendo rapidamente nos últimos anos.
A cientista é formada em engenharia agronômica pela Universidade de São Paulo (USP). Para ela, há ganhos ecológicos com o isobutanol. Isso não significa que ele sozinho será a solução no curto prazo para todos os problemas de poluição. "O objetivo principal do biocombustível é ser reciclado, é não liberar poluição. É uma reciclagem de carbono, muito mais eficiente do que um combustível fóssil", disse ela.
Tutora
Cláudia atua como tutora de outra pesquisadora: a estudante de biotecnologia Amanda Bernardi, de 22 anos. A jovem é a primeira bolsista do programa Ciência sem Fronteiras, lançado pelo governo federal, no MIT.
Amanda, que estuda na Universidade Federal de Alfenas (MG), trabalha no estudo da tolerância da bactéria Ralstonia ao isobutanol - atualmente os cientistas estão aperfeiçoando o projeto para fazer o micróbio modificado geneticamente sobreviver ao álcool que ele mesma produz.
"É um projeto fantástico. Ao mesmo tempo que pode ser capaz de usar o CO2 produzido pelas indústrias, cria um combustível limpo", afirma a aluna, questionada do que acha da pesquisa. "Isso motiva a gente, me atrai muito. A meu ver pode revolucionar toda a parte de combustíveis."
A estudante diz ser acompanhada de perto por sua supervisora. "Ela [Cláudia] me ensina tudo. Tem essa vantagem, ela é muito paciente em me explicar tudo, pensamos muito nos próximos passos a dar." Cláudia prevê que, entre o final de 2013 e o início de 2014, deve estar pronto um projeto-piloto para produção do isobutanol em maior escala, utilizando um fermentador especial para captar
Fonte: G1