02/09/2014 18h40
Brasil lança foguete com combustível inovador
O primeiro foguete brasileiro com combustÃvel lÃquido foi lançado à s 23 horas de segunda-feira, 01, do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). O principal objetivo da missão, coordenada pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), era testar o motor L5, totalmente desenvolvido no Brasil e que utiliza etanol e oxigênio lÃquido para propulsão.
O foguete de sondagem é suborbital, isto é, não sai da atmosfera terrestre. No voo, com duração de três minutos e 34 segundos, o VS-30 descreveu uma parábola até cair no mar, conforme o previsto. A Marinha atuou no isolamento do tráfego marÃtimo e na comunicação com os navegantes.
De acordo com o coordenador geral da operação, coronel Avandelino Santana Junior, o combustÃvel lÃquido - utilizado na maior parte dos programas espaciais do mundo - substituirá com diversas vantagens, no futuro, os propulsores sólidos utilizados até hoje no VLS-1 (VeÃculo Lançador de Satélites) do Programa Espacial Brasileiro. "Se comparado a paÃses como China e Ãndia, Brasil está no estágio inicial do desenvolvimento de propulsão lÃquida para foguetes. Os maiores satélites são colocados em órbita com motores de combustÃvel lÃquido", disse.
O desenvolvimento do motor L5, segundo Santana Junior, foi resultado de anos de estudo no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), ligado ao comando da Aeronáutica. "O L5 foi testado pela primeira vez no Brasil em condições de temperatura e pressão reais", afirmou. A propulsão lÃquida, de acordo com ele, tem as vantagens de melhorar a precisão da inserção em órbita e liberar mais energia de impulsão e usar câmaras de combustão mais leves - o que aumenta a força do foguete, diminuindo seu peso. "Teoricamente, a substituição do combustÃvel sólido permitirá quase dobrar a carga-útil - isto é, o conjunto de módulo e satélite - do nosso atual lançador VLS-1", afirmou.
O VS-30 V13 decolou movido por um estágio propulsor de combustÃvel sólido, que foi programado para se desprender do foguete 124 segundos após o lançamento. A partir daÃ, uma carga de nitrogênio gasoso aciona o estágio propulsor de combustÃvel lÃquido (EPL), enviando o etanol e o oxigênio lÃquido para o motor L5, converte a energia quÃmica em força propulsora. O impulso gerado é de cinco quilonewtons. O voo impulsionado pelo motor de etanol e oxigênio lÃquido durou um minuto e meio.
O foguete levou embarcados dispositivos experimentais do IAE, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da empresa Orbital Engenharia. A carga útil não é resgatada. Mas o módulo de telemetria monitorou todo o funcionamento no estágio de propulsão lÃquida, enviando os dados remotamente para o estudo do comportamento do veÃculo. "Verificamos o bom funcionamento do motor L5 durante os 90 segundos previstos", disse Santana Junior.
Segundo Santana Junior futuras versões dos principais veÃculos lançadores de satélites brasileiros preveem estágios a propulsão lÃquida. Para isso, segundo ele, é essencial o domÃnio técnico desse tipo de combustÃvel. "Com as vantagens desse tipo de combustÃvel, esperamos que haja no paÃs o desenvolvimento de toda uma cadeia técnica e produtiva - envolvendo centros de pesquisa, institutos, universidades, indústria - especializada em projetos envolvendo propulsão lÃquida", afirmou.
Além dos testes do combustÃvel, da interface entre o propelente sólido e o lÃquido, a missão também teve os objetivos de manter a operacionalidade do centro de lançamento e dar prosseguimento ao Programa Espacial Brasileiro, em coordenação com a Agência Espacial Brasileira (AEB). "Além disso, em um cenário de baixo orçamento e sem cooperação estrangeira na área de propulsão lÃquida, isso pode ser uma alternativa para treinar e capacitar equipes nessa área", declarou Santana Junior.
Fonte: Estadão Conteúdo