Obesidade tem relação direta com expansão de tumor, segundo cientistas.
Tratamento promissor ainda está em fase inicial de testes.
As células de gordura podem se tornar o mais novo alvo de tratamentos contra o câncer. Estudos nessa área ainda são experimentais, mas bastante promissores, pois há comprovação científica de que o tecido adiposo – que reúne as células de gordura do corpo – ajuda no crescimento dos tumores.
"Provamos ao longo dos últimos cinco anos que o tecido adiposo promove diretamente o câncer, além do estilo de vida e da dieta já relacionados à obesidade", afirmou o pesquisador russo Mikhail Kolonin, que trabalha com essa linha de pesquisa no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
"Há alguns anos, essa era uma questão em aberto, e agora sabemos que é um fato", completou o pesquisador, que veio ao Brasil para participar do Simpósio Célula-Tronco na Biologia do Desenvolvimento e no Câncer, realizado pelo Hospital do Câncer A.C. Camargo, em São Paulo.
Dentro do tecido adiposo, existem células-tronco adiposas. Quando um tumor se forma, essas células vão até ele e contribuem para a formação de vasos sanguíneos no local. Com isso, o câncer cresce mais rapidamente.
A lógica serve para os tumores chamados primários, que se instalam antes do processo de metástase – quando o câncer se espalha para vários órgãos. Isso só acontece nos órgãos que têm contato com o tecido adiposo, como intestino, mamas, próstata, esôfago e pâncreas. Onde não há gordura por perto, como no caso do cérebro e do pulmão, o efeito não é percebido.
Naturalmente, os resultados apontam para mais um aspecto da importância de combater a obesidade para defender a saúde, mas não é só isso. A descoberta também pode levar a um novo tratamento contra o câncer, focado nas células-tronco adiposas.
Kolonin pensa em eliminar essas células-tronco com um medicamento específico para os pacientes com câncer, na tentativa de evitar que elas favoreçam a alimentação dos tumores. No entanto, o tratamento precisaria ser bem dosado, porque a eliminação dessas células deve ser apenas parcial, e não total, porque a gordura tem funções essenciais para a defesa do organismo.
"O tecido adiposo pode fazer mal à saúde, mas também é essencial", afirmou o cientista, que citou estudos em que camundongos com baixa quantidade de gordura apresentaram saúde muito frágil e desenvolveram doenças como diabetes.
A ideia ainda é vista como uma aposta, e somente novas pesquisas é que poderão comprovar se é viável controlar o câncer atacando essas células. "Ninguém fez isso ainda, acabamos de começar os primeiros experimentos nesse sentido", explicou Kolonin.
A perda de peso comum entre pacientes com câncer, porém, não serve para proteger o corpo contra esse processo. O tecido adiposo reduz de tamanho, mas não perde muitas células-tronco. Além disso, o emagrecimento ocorre nos estágios mais avançados da doença, depois que a gordura já desempenhou seu papel no crescimento do tumor.
O pesquisador também considera perigoso fazer dietas para perder peso após o diagnóstico de câncer, pois a falta de nutrientes poderia acelerar o processo de migração das células adiposas para os tumores – uma hipótese que sua equipe ainda não conseguiu comprovar.
Fonte: G1