Especialistas debateram em seminário desafios para inovação tecnológica.
Eles discutiram formação de pessoas e fontes de recursos para pesquisas.
Cientistas defenderam nesta quinta (14), em seminário sobre os desafios da inovação tecnológica, mais investimentos em educação e a popularização das ciências exatas como meios para desenvolver a pesquisa científica no país.
O evento "Caminhos para Inovação", realizado pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado, teve a participação de autoridades do governo, representantes de instituições de pesquisa e docentes de universidades nacionais e internacionais na área de ciências exatas.
O professor Marcelo Gleiser, que leciona astronomia e física no Dartmouth College, em New Hampshire, nos Estados Unidos, afirmou que a divulgação das ciências e o reconhecimento dos cientistas atrairia novos talentos para a área da pesquisa.
"É preciso desmistificar a carreira do cientista. Eu cresci sem conhecer um cientista. A verdade é que nenhum cientista visita uma escola para dizer o que é ser cientista. O cientista é uma incógnita. [...] Falta popularização. As pessoas precisam saber o que os cientistas estão fazendo, quais são as grandes descobertas que estão sendo feitas aqui", disse.
Gleiser também defendeu uma mudança na educação do país. "Tudo em ciência e tecnologia começa com a educação de jovens. É absolutamente essencial repensar a educação para o progresso da ciência. [...] A maioria dos professores que ensina ciência não sabe ciência ou não tem paixão. O professor que não tem paixão não vai saber ensinar e nem inspirar o aluno a querer aprender. [...] O melhor laboratório para ensinar a ciência é num parque, mostrar o céu, árvores, solo. Toda a ciência está ali", disse.
O senador e professor Cristóvam Buarque, presidente em exercício da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, enfatizou a necessidade de se incentivar a inovação a partir da educação de base.
"As pessoas não percebem que é preciso incentivar a inovação na educação de base, como se ciência e tecnologia começasse no cientista e não na criança. [...] Não esqueçam que ninguém nasce cientista. Se uma professorinha no interior da Alemanha não tivesse ensinado as equações a Einstein, ele não nasceria cientista", declarou.
Marcelo Sampaio de Alencar, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (DEE-UFCG), disse que o Brasil "não produz engenheiros", essenciais, segundo ele, para a inovação tecnológica.
"A China tem 600 mil engenheiros por ano. O Brasil tem 40 mil. Isso é irrisório. É preciso estimular. É mais fácil estudar poesia, música, direito. Colocamos mais de 200 mil advogados no mercado e não tem mercado para tanta gente. O advogado tem sua função, mas não produz inovação. O Brasil precisa de físicos, químicos e engenheiros. Precisa estimular que o estudante vá para a área de ciências exatas", afirmou.
Programa de bolsas no exterior
O secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Elias, que representou o governo no seminário, afirmou que o programa Ciência sem Fronteiras, que tem por objetivo distribuir cerca de 100 mil bolsas de estudo no exterior para estudantes brasileiros, incentiva a inovação no Brasil.
Ele disse que o governo federal tem avançado em relação à criação de um ambiente favorável para a pesquisa no Brasil, mas destacou que as empresas privadas também devem partipar.
"É necessário que se compreenda que o risco do processo de investimento é um ganho de produtividade na ponta", disse.
Glaucius Oliva, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), destacou números que mostram o aumento de mestres e doutores no Brasil, mas afirmou que o contingente ainda é baixo na comparação com outros países desenvolvidos e em desenvolvimento, como a China. Ele também citou o Ciência sem Fronteiras e apontou a necessidade de investimentos em educação.
"Não haverá grupos de pesquisa se não tivermos jovens para alimentar [os grupos]. O ensino fundamental e médio são fundamentais para esse programa [Ciência sem Fronteiras]."
Para Segen Farid Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), embora o Ciência sem Fronteiras seja positivo, o governo precisa valorizar também as instituições nacionais.
"O Ciência sem Fronteiras é altamente bem-vindo, mas as instituições nacionais têm que ter protagonismo em relação ao programa", afirmou.
Fonte: G1