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“Para iludir minha desgraça, estudo”. Sabias palavras de Pessoa, ou você vai dizer que o estudo é uma dádiva? Concordo que o conhecimento liberta, e também concordo com todos as outras filosofias iluministas sobre o conhecimento; todavia, vamos analisar: o conhecimento nos leva ao surto.
Explico. Eu era uma adepta das explicações cientificas, via ciência em cada grão de arroz que eu mastigava, até o dia que eu conheci o mar. Sim, o mar! Oceano, azul, infinito! Descobri que aquela sopa transparente tinha mais vida do que água. Cnidários, poríferos, celenterados, protozoários, crustáceos. Era tanta coisa. Tantos seres. Os corais não são pedras, as algas não são plantas. Será que a areia é formada só de sedimentos trazidos pelo vento? Não piso mais em praia!
Não piso mais na praia nem compro mais pão, talvez me recuse a respirar, e a tomar iogurte, comer gorgonzola e aquele micélio vegetativo junto... JAMAIS.
A ciência é o surto psicótico humano. Ela é linda, com todos os seus “porquês” e explicações do inexplicável, mas ela deve ser dosada. Se ciência for bebida, por favor, não encha meu copo!
Não precisamos saber que uma arvore é inclinada por ação de uma auxina, nem que um fruto fica maduro por causa do etileno que é um hormônio gasoso, tão pouco que caju não é fruto e sim o desenvolvimento do pedúnculo floral.
Conseguimos viver desconhecendo a teoria de que a mitocôndria era uma bactéria que foi fagocitada, que as hemácias não tem núcleo, que o vírus não é uma caixinha com material genético.
Não conseguimos viver sem a ciência, mas não precisamos ser a ciência, afinal de contas, o chocolate vai além das calorias. Devemos parar de nos fixar a detalhes que não servem pra nada. Que a ciência fique com os cientistas; e conosco, a vida a ser vivida.
