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10/03/2011 17h04

Coluna Os leões da Praça da Federal, por Filipe Gannam

Coluna: Os leões da Praça da Federal, por Filipe Gannam

Morávamos nos idos de 1948/1951 na casa em frente ao Hotel Guanabara.

Hoje ela deu lugar a parte do centro de convenções do referido hotel e existe apenas em minha lembrança e em algumas fotos que ficaram: a turminha brincando de roda com a babá, os primos todos reunidos e outras. Quando mamãe teve eclampsia no dizer do Dr. Póvoa, ficou clinicamente morta. Segundo ele, só Deus poderia ter pena daquelas seis crianças e salvar sua mãe. A medicina fizera o que fora possível. Mas, este Deus se compadeceu e conservou-a durante mais 47 anos, junto de nós, chegando a dar à luz mais três filhos, depois.

Nos domingos chuvosos, mamãe, na sua grande vocação (imaginem que ela mãe chegou a pensar em ser freira, que sua vocação era esta. Mas poucas a tiveram para a maternidade como ela. Foi uma verdadeira mãe, mãe) sempre inventava alguma brincadeira. Já nos dias de sol, um passeio para os seis filhos reunidos. Era o Parque das Águas (não sem antes dar uma passada na Lusitânia ou na Americana, para comprar balas), eram visitas à Dona Kate, no Hotel Normando, onde ficávamos brincando. Eram passeios na Praça da Federal.        

Nessa, passávamos a tarde toda brincando. Havia uns leões esculpidos, onde costumávamos montar, imaginando que eles fossem nossos cavalinhos. Era a nossa alegria!

Quando voltávamos para casa, famintos, ela punha todos, primeiro, para tomar banho. Às vezes, quando já o havíamos tomado antes, fazia um verdadeiro lava-pés. Pegava uma grande bacia, enchia com água e punha seis cadeiras ao seu redor. Colocávamos os doze pés na bacia e ela ia lavando um por um. Se fossem doze pessoas, ao invés de doze pés, teríamos o lava-pés de Cristo e seus apóstolos...

Os anos passaram.  A vida seguiu seu ciclo e continua... Mas nunca me esqueci do tempo de minha infância. Às vezes lembrava-me, com saudades, dos nossos passeios, de minha mãezinha (desta, a lembrança é diária). Um dia, sonhei com a Praça da Federal e seus leões. Fiquei meditando comigo mesmo:

- Nossa! Os leões da Praça da Federal, por que será que os tiraram de lá há tanto tempo? Será que as crianças de hoje já não ligam para isto? Têm outros tipos de brinquedos mais interessantes? Nunca mais eu andei a pé naquela pracinha! Preciso dar uma volta por lá.

Quando me levantei, na hora do meu caminhar diário, resolvi mudar o trajeto e passar na Praça da Federal. Que susto! Os leões, os leões que eu não conseguia enxergar desde os meus primeiros anos de vida estavam lá. Como é que os anos todos se passaram e eu tinha plena certeza de que não havia mais esses animais?

Como é que podia não reparar mais em nada?

Minha meditação continuou. Acontece que a visão das crianças, em sua pureza, em seu tipo de preocupação, é muito mais clara do que a de um adulto. A criança, ao enxergar, dá importância ao que lhe é relevante em sua idade. À simplicidade das coisas. O adulto, envolvido pelas grandes preocupações da vida, acaba se esquecendo de enxergar coisas simples. Passa a ver somente as grandes coisas. Por isto passaram-se tantos anos sem que eu visse os leões da Praça da Federal, embora eles continuassem lá.

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