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17/03/2011 10h53

Coluna Uma omelete em Passa Quatro

Coluna: Uma omelete em Passa Quatro

Um senhor que, como nós aguardávamos, a partida do trem da Serra à cidade de Passa Quatro, que maravilhado a tudo observava, virando-se deslumbrado, fica a tecer saudosos comentários onde, em décadas passadas, ali por vezes circulou quando jovem a comprar ovos, já que era na ocasião um granjeiro estabelecido no Rio de Janeiro. Revelando seu nome, Eleutério, a dizer ser um octagenário e nunca imaginar um dia voltar a Passa Quatro, põe-se a narrar episódios nostálgicos que ainda os têm vivos à memória. Entre vários, recordava-se de um o qual veio a deixá-lo quase em desespero. Afinal envolvia muito dinheiro e o investimento assumido junto aos compradores demandava prazo de entrega.

Vindo de Itanhandu (MG) o trem, ao chegar em Passa Quatro não seguiu! Notando a demora, impacientou-se a erguer-se do assento a olhar pela janela, voltando-se a sentar. Nesta agonia, repetida algumas vezes, resolveu descer à plataforma a tentar obter informações, vez que tinha em um vagão de carga 400 dúzias de ovos que, dado ao calor do início da tarde, certamente os danificariam. Todavia, ninguém sabia o motivo, limitando-se às desencontradas informações. Com quase duas horas de paralisação, inconformado, deixa o vagão indignado e vai à administração pedir providências, afinal, a baldeação em Cruzeiro dar-se ia às 17h e não poderia perder o trem ao Rio de Janeiro – não só pela carga exposta a tanto tempo ao calor inclemente, como o prazo de entrega.

O chefe da estação então mostra a mensagem a pouco recebida de Cruzeiro, dando ciência de que o vagão de valores da Caixa Econômica Federal teve uma mala roubada na serra e a Polícia estava no encalço do larápio e logo o tráfego seria normalizado. De fato aconteceu uma hora e meia depois com a chegada do trem retido. Eleutério então foi ao chefe do trem chegado e soube que não houve roubo – e sim, descuido do tesoureiro responsável em autorizar ao subordinado retirar uma mala, por ele relacionada como de valores, e incluí-la junto às administrativas. Óbvio, na recontagem deu pela falta e, deu no que deu – ou seja: paralisação do tráfego, aguardar a Polícia no local, buscas na mata à procura de pista do suposto gatuno... enfim, a série de burocracias cuja demora acarretou em quatro horas de atraso – o que, no caso de Eleutério, seria impossível seguir ao Rio de Janeiro.

Esbravejando, foi ao tesoureiro trapalhão a exigir a indenização pelos ovos perdidos na trapalhada. Felizmente o homem, acabrunhado, não teve como negá-lo e lhe entregou um documento da caixa autorizando a unidade de Cruzeiro (agência) a indenizá-lo nos prejuízos causados.

Eleutério, aliviado, resolveu retornar a Itanhandu no trem do atrapalhado tesoureiro, a fim de adquirir nova remessa de ovos.

Quanto aos que permaneceram no vagão de carga, talvez servissem para fazer uma grande omelete ou fritada em Passa Quatro ou Cruzeiro... sob patrocínio da Caixa Econômica!

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