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18/09/2014 08h00

Despejado vai para prédio que juiz já mandou desocupar

A maior parte das 200 famílias despejadas da ocupação do antigo Hotel Aquarius da Avenida São João, em reintegração com 12 horas de confrontos no centro de São Paulo, mudou-se, na quarta-feira, 17, para uma invasão da Rua Líbero Badaró, na mesma região. Cerca de 180 famílias desalojadas estão no edifício de uma antiga agência dos Correios, fechada em 2010. A Justiça já concedeu a reintegração de posse ao proprietário do imóvel há dois meses.

A operação da Polícia Militar está prevista para acontecer até o fim deste mês - a última reunião de oficiais com a Frente de Luta por Moradia (FLM), para acertar os detalhes da saída, está marcada para o dia 23. Sem ter para onde ir após a reintegração de terça-feira, 16, as famílias foram espalhadas em quatro andares do prédio onde já moravam cerca de 70 sem-teto. Responsável pela invasão, a FLM promete resistir novamente à remoção das famílias. Comunicados da PM estão colados no local, com avisos sobre a negociação final.

O Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, responsável pela defesa jurídica de movimentos de moradia de São Paulo, tenta barrar na Justiça a reintegração. A entidade teme que o centro volte a virar um campo de guerra semelhante ao de anteontem quando mais de 89 pessoas foram detidas - cinco continuam presas - e ao menos dez ficaram feridas.

Advogados do centro tentam obter liminares para impedir também o cumprimento de mais três reintegrações já ordenadas. Ao todo, os quatro edifícios têm 932 famílias - quase 3 mil pessoas. Só em uma das ocupações, na Avenida Prestes Maia, desde outubro de 2012, são 380 famílias do Movimento Moradia Para Todos (MMPT).

É a reintegração já marcada para o prédio da Líbero Badaró, porém, a que mais preocupa a entidade e a Defensoria Pública do Estado. "Existe uma situação muito grave no centro, que pode ficar ainda mais tensa. Essas reintegrações precisam ser repensadas. Nós estamos tentando liminares para barrar essas reintegrações", afirmou a advogada Juliana Avanci, do Centro Gaspar Garcia.

Ouvidor da Defensoria Pública do Estado, Alderon Costa também defende uma mudança na política de reintegrações. "A Justiça precisa repensar a reintegração de posse como ela é hoje, nós precisamos humanizar a retirada das famílias. São pessoas que economizam anos para conseguir comprar uma geladeira, são famílias carentes e sem moradia", diz Costa.

Outro prédio previsto para ser desocupado com base em ordem já expedida também fica no coração do centro, no calçadão da Rua 7 de Abril. Com 182 famílias no imóvel desde outubro de 2012, o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC) diz que vai reagir. "Se vier (a PM), o pau vai comer. Somos em mais de 5 mil famílias aqui no centro, ninguém tem onde morar. E vamos lutar pelo nosso direito de moradia até o fim", afirmou Jaqueline Maria dos Oliveira, de 26 anos.

Ao lado do Praça da República, em edifício na Rua Bráulio Gomes, vivem cerca de 200 famílias sem-teto de diversos movimentos desde o ano passado. Desocupado desde 2001, a reintegração de posse também foi concedida aos proprietários. "Por quase 15 anos isso aqui ficou vazio, sem ninguém, era só esconderijo de 'noia'. E agora querer tirar nós? Não vão conseguir", disse Douglas César Rodrigues, de 36 anos, que mora sozinho no local é catador de papelão. Procurada, a PM não comentou as reintegrações. A corporação informou que quem decide sobre as desocupações dos prédios invadidos é a Justiça.

Apoio

Na quarta-feira, 17, as 14 entidades que comandam ocupações no centro divulgaram manifestos na internet de apoio às famílias despejadas. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), a maior das entidades e protagonistas dos maiores protestos realizados neste ano na capital paulista, avisa que vai lutar contra novas operações da Tropa de Choque no centro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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