Documento deve dizer que morte "decorreu de lesões e maus-tratos".
Na época da ditadura, Exército apresentou a tese de suicídio para a morte.
Pesquisadores brasileiros receberam na última semana um prêmio da Organização Pan-americana de Saúde por um estudo sobre o aborto no país. A Pesquisa Nacional de Aborto, de 2010, revelou, entre outras coisas, que mais de um quinto das mulheres do país fazem pelo menos um aborto até o fim da vida reprodutiva.
O Prêmio Fred L. Soper por Excelência em Literatura de Saúde Pública é oferecido pela Organização Pan-americana de Saúde aos melhores estudos nessa área. O prêmio foi entregue nos Estados Unidos para Débora Diniz, que liderou o estudo ao lado de Marcelo Medeiros. Os dois são pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB).
“A gente nunca tinha ganhado nada tão grande”, afirmou Medeiros.
Para ele, o grande mérito do estudo é revelar que 22% das mulheres com entre 35 e 39 anos já induziram aborto em algum momento da vida. “Essa informação é importante porque mostra claramente que é uma questão de saúde pública”, disse o pesquisador. “É uma quantidade gigantesca”.
A pesquisa mostrou também que a mulher que aborta é uma mulher “normal”. Entre as que admitiram ter induzido o aborto em algum momento, há mulheres casadas e mães de família. Isso não quer dizer, no entanto, que elas já eram mães quando abortaram.
Hoje, o aborto é considerado crime pela lei brasileira, exceto em casos de estupro, de risco à vida da mãe e de fetos anencéfalos (sem cérebro).
Problema de saúde
Para o sociólogo, é a clandestinidade que transforma o aborto em um problema de saúde pública. A pesquisa revelou que o método mais usado para induzir o aborto é um medicamento chamado Misoprostol.
Embora entre ilegalmente no país, seu uso como abortivo é reconhecido nos lugares onde o aborto é legalizado. O maior problema no Brasil é a falta de acompanhamento médico das mulheres que o utilizam.
Medeiros apontou dois principais problemas nesse sentido. Em primeiro lugar, a falta de orientação pode levar a um erro na dose. Além disso, o medicamento provoca uma hemorragia, cujo tratamento exige internação em hospital. Cientes de que fizeram um ato ilegal, muitas mulheres evitam procurar ajuda profissional nesses momentos, alertou o pesquisador.
“A mortalidade é baixa, muito menor do que foi no passado. O que tem [de problema] são as complicações [pós-aborto]”, ponderou o autor.
Fonte: G1