16/09/2022 20h30
Estupro e tatuagem à força: ao menos 10 mulheres acusam Thiago Brennand de crimes
Denunciado após ser flagrado agredindo uma modelo em uma academia da capital, o empresário Thiago Brennand Fernandes Vieira, de 42 anos, será investigado agora pela prática de crimes sexuais contra ao menos dez mulheres. A partir de segunda-feira, 19, as promotoras públicas do Núcleo de Atendimento à s VÃtimas de Violência (NAVV) do Ministério Público de São Paulo começam a ouvir as vÃtimas, segundo informou o MPSP. Relatos prévios obtidos pelas promotoras dão conta de crimes de assédio sexual, estupros, cárcere privado, agressões e ameaças. Três teriam sido marcadas com as iniciais dele tatuadas no corpo.
O empresário, que já se tornou réu no caso da agressão à modelo paulistana, viajou para Dubai, nos Emirados Ãrabes, no último dia 4 e continua no exterior. A Justiça deu prazo de dez dias para que ele retorne ao Brasil. O prazo vence no próximo dia 23.
Conforme o MPSP, o núcleo de atendimento foi criado no inÃcio deste ano para prestar apoio à s vÃtimas de crimes violentos, sobretudo os sexuais, oferecendo assistência psicológica, social e de saúde, em parceria com outras instituições. As vÃtimas do empresário procuraram os canais da Justiça depois que outros casos envolvendo Thiago Brennand se tornaram públicos. Para isso, elas tiveram o apoio do Projeto Justiceiras, de prevenção à violência de gênero.
As promotoras vão ouvi-las de maneira informal, para que elas se sintam à vontade para falar, mesmo sobre os momentos mais dolorosos. Se os relatos confirmarem a existência de crimes, elas serão ouvidas formalmente para a abertura de inquéritos. O próprio MP pode iniciar o procedimento investigatório criminal. Além da equipe de promotores do NAVV, coordenado pela promotora Silvia Chakian, o promotor de Porto Feliz, Josmar Tassignon Junior, participa da investigação, que vai correr em sigilo.
Conforme o MPSP, os relatos dão conta de crimes graves, principalmente estupros. As mulheres teriam sido atraÃdas pessoalmente ou através de redes sociais e foram levadas para a mansão do empresário em um condomÃnio de luxo em Porto Feliz, interior de São Paulo, onde os crimes teriam acontecido.
Tatuagem à força
O advogado Márcio Cezar Janjacomo, que assiste as vÃtimas e encaminhou os casos ao MP, disse que o modus operandi usado pelo empresário é o mesmo relatado pela mulher que já o havia denunciado à PolÃcia Civil de Porto Feliz. A vÃtima, uma jovem pernambucana, foi mantida em cárcere privado, estuprada e obrigada a se submeter a uma tatuagem com as letras TFV, as iniciais do nome do empresário.
"Ele deixava claro que marcava as vÃtimas como forma de registrar que eram sua propriedade. Além dessa vÃtima, houve mais dois casos (de tatuagem), que ainda dependem da investigação. O fato é que são crimes bárbaros e elas vão mostrar conversas no celular sobre vÃdeos que ele teria feito e ameaçava divulgar para destruir a reputação delas, além de ameaças, humilhações. É um material farto e incriminador", disse.
Ainda segundo o advogado, as vÃtimas são jovens mulheres que conheceram Thiago Brennand em eventos sociais ou através de redes sociais. "Nem todas são do nÃvel econômico e do meio social dele. Algumas moças ele conheceu em bares e baladas. Como no inÃcio ele era gentil e cordial, muitas ficaram iludidas, achando que tinham encontrado o prÃncipe encantado", afirmou.
Os casos aconteceram entre o final de 2017 e o inÃcio deste ano. Um dos recentes é o da mulher que teve um relacionamento com o empresário em 2021 e, depois de denunciar o caso à polÃcia de Porto Feliz, teve de voltar atrás em razão das ameaças dele. As testemunhas, entre elas o tatuador, disseram à polÃcia que nada houve. Além de arquivar o caso por falta de provas, a polÃcia encaminhou o inquérito para a PolÃcia Civil de Pernambuco para que a vÃtima fosse investigada por denunciação caluniosa. O MP de Porto Feliz mandou reabrir a investigação.
Outro relato é de uma brasileira de 37 anos que mora nos Estados Unidos e conheceu Thiago pelas redes sociais, passando a trocar mensagens. Em agosto do ano passado, ela veio para São Paulo e foi levada à mansão dele em Porto Feliz. Depois de um perÃodo de romantismo, ele se tornou possessivo e violento, ao ponto de obrigá-la a entregar a senha do celular. Após ver suas conversas pessoais, ele passou a xingar e agredi-la com tapas no rosto e na cabeça, segundo o advogado.
Naquela noite, o homem a estuprou, obrigando-a a fazer sexo anal com ele. Antes, permitiu que um tatuador entrasse no quarto e, na presença de seguranças, gravasse suas iniciais no corpo dela. A vÃtima relata que foi mantida em cárcere privado e impedida de se comunicar com familiares. Ele tinha câmeras no quarto e gravou os momentos Ãntimos dos dois, ameaçando mandar os vÃdeos para a filha da mulher.
Enredo
Conforme o advogado Janjacomo, as outras mulheres relataram ter sofrido crimes semelhantes. "O enredo era sempre o mesmo. Ele iniciava uma relação e depois começava a humilhar e abusar das vÃtimas, obrigando-as ao silêncio sob a ameaça de divulgar os vÃdeos e acabar com elas."
Thiago já é réu na Justiça pelos crimes de lesão corporal e corrupção de menores por ter sido acusado pelo MP de agredir a modelo Helena Gomes numa academia na capital paulista e incentivar o filho dele menor de idade a ofendê-la. A Justiça ainda proibiu o empresário de frequentar academias e de se aproximar de testemunhas. Ele também foi obrigado a entregar o seu passaporte, o que deve fazer após seu retorno ao PaÃs. Em caso de descumprimento das medidas cautelares impostas, poderá ser decretada a prisão preventiva de Thiago.
Durante as investigações, a PolÃcia Civil apreendeu acessórios para armas de Thiago dentro de uma mala num armário dele em sua casa no condomÃnio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz. Uma perÃcia vai apontar se os equipamentos estão legalizados. Logo após a operação, o Exército suspendeu o certificado de registro de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador desportivo), que permitia a Thiago ser colecionador de armas.
Além das mulheres, ao menos dois homens acusam o empresário de agressões: um enfermeiro de um hospital na capital e um garçom de um hotel em Porto Feliz. O caso do garçom Vitor Igor Rodrigues Machado, de 26 anos, está em processo de investigação pela PolÃcia Civil.
Acusado de passar "correndo" com a moto pela frente da mansão do empresário em Porto Feliz o jovem conta ter sido agredido a socos e ameaçado para não mais voltar a cruzar o caminho do agressor. Desde o episódio, o garçom está afastado do serviço no restaurante Fasano, mudou de função e está em home office como auxiliar administrativo.
A reportagem entrou em contato com a defesa de Thiago Brennand e ainda aguarda retorno.
Fonte: Estadão Conteúdo