16/02/2023 08h10
Guiné Equatorial tem surto do vírus de Marburg
A Guiné Equatorial, na Ãfrica Central, confirmou seu primeiro surto do vÃrus de Marburg, da mesma famÃlia do Ebola. A regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Ãfrica informou na segunda-feira que 9 mortes foram confirmadas e 16 casos são investigados como suspeitos.
A doença de Marburg causa febre hemorrágica, com taxa de letalidade de até 88%, de acordo com a OMS, o que faz dele um dos vÃrus mais mortais do mundo. O quadro começa abruptamente, com febre alta, dor de cabeça e mal-estar intensos. Muitos pacientes desenvolvem sintomas hemorrágicos graves dentro de sete dias.
O vÃrus é transmitido aos humanos por morcegos frugÃvoros e se espalha por contato direto com os fluidos corporais de pessoas, superfÃcies e materiais infectados. Por ora, não há vacinas ou tratamentos antivirais. Contudo, segundo a OMS, cuidados de suporte (reidratação com fluidos orais ou intravenosos) e tratamento de sintomas especÃficos melhoram a sobrevida do paciente.
Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a gravidade do quadro é explicada pelo "órgão-alvo" do vÃrus. "Ele afeta principalmente as células do sistema circulatório endotelial. Acaba prejudicando a permeabilidade dos vasos das células que revestem o sistema circulatório. Isso faz com que haja hemorragia."
Barbosa diz que a confirmação do surto no paÃs africano não é uma "surpresa", uma vez que, na região, há reservatório animal do vÃrus. "Alguns animais silvestres principalmente morcegos, são hospedeiros naturais dessa famÃlia de filovÃrus. Portanto, eventualmente você vai ter morcegos contaminando seres humanos, e aà acontece a transmissão inter-humanos, que é o que está acontecendo agora."
Desde 1967, quando a doença foi detectada pela primeira vez, com surtos simultâneos nas cidades alemãs de Marburg e Frankfurt, e em Belgrado, na Sérvia, ela já causou surtos em vários momentos. Embora tenham causado muitas mortes, em geral, não "furaram" fronteiras nacionais. Em 2004, um surto do vÃrus na Angola matou 90% dos 252 infectados. No ano passado, houve duas mortes relatadas pelo Marburg, em Gana.
REUNIÃO
Frente aos nove óbitos confirmados, a OMS anunciou reunião de emergência do consórcio Marvac, que promove a colaboração internacional para o desenvolvimento de vacinas contra o vÃrus de Marburg. O consórcio é coordenado pela OMS e inclui representantes da indústria farmacêutica, organizações sem fins lucrativos, autoridades e academia. Os integrantes se reuniram discutir a doença e possÃveis tratamentos e vacinas.
Violência da doença deve deter exportação de casos
A diretora regional da OMS na Ãfrica, Matshidiso Moeti, informou que o vÃrus é considerado "altamente infeccioso". Segundo ela, a ação rápida e decisiva das autoridades da Guiné Equatorial na confirmação da doença pode ajudar a deter o vÃrus mais rápido.
Com o mundo mergulhado há cerca de três anos na pandemia da covid-19, a confirmação do surto de um novo vÃrus tão grave pode assustar. No entanto, especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que, com o conhecimento que se tem até hoje sobre o Marburg, a "exportação" de casos para outros paÃses até pode ocorrer, mas uma disseminação semelhante, por exemplo, é pouco provável.
A letalidade elevada ajuda a explicar isso. "Se a gente pegar um indivÃduo, por exemplo, infectado na Ãfrica e que rompesse essa barreira epidemiológica que já foi instalada, e viesse ao Brasil ou para outro paÃs, a manifestação do sintoma é tão rápida que provavelmente esse indivÃduo evoluiria para um quadro grave e de óbito antes de chegar ao território. Então a gente trabalha com uma caracterÃstica viral muito diferente do vÃrus causador da covid-19", afirma Joziana Barçante, professora de Medicina da Universidade Federal de Lavras (UFLA). (Com Agências Internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo