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20/06/2012 11h51

Na fumaça do trem A mentira providencial!

A mentira providencial!

 

 

Em meio ao terrível momento o qual o país passou, notadamente à região sudeste, com referência as chuvas de verão que sobre forma de catástrofe causaram inúmeras tragédias que nos deixaram traumatizados diante da fúria da natureza, em um lampejo de serenidade, me trouxe da memória um episódio contado por meu pai Luiz, quando numa oportunidade viajando no trem com destino a Ouro Fino (MG), presenciou, tendo a interceder junto a alguns passageiros na tentativa de acalmá-los, tal o desespero e o pavor que os dominavam.

 

Ao deixar Monte Sião (MG) àquela tarde, sob um calor abrasador, ao longe já se podia notar a presença de nuvens plúmbeas pesadas prenunciando muita chuva. Seguindo viagem, lá iam os passageiros fustigados pelo calor a deixá-los sonolentos quase em estado de estupor, quando uma golfada de vento invadiu o vagão assustando a todos. Olhando à janela, via-se pelo balançar das copas das arvores e do bailar do capim do relvado dos pastos, que se tratava de forte ventania. Algumas pessoas levantaram os vidros dado a poeira. De repente, pingos grossos de chuva passam a molhar os passageiros que mantinham os vidros arriados; o que os fizeram erguer. Logo a seguir o trem penetra no temporal, onde um barulho ensurdecedor ainda aumentado pela acústica do vagão pelos vidros fechados, deixam as pessoas desorientadas; que englobado a cortina d’água vista nas vidraças, cuja água riscava em abundância a dificultar a visão exterior, transformava aquele ambiente sonolento em agitação pelo temerário pavor de uma tragédia. Afinal 

o confinamento do vagão, de aparente segurança, tornava-se mero brinquedo contra a força da natureza. Com o “céu desabando” em meio a fúria da intempéries, que mais parecia uma orquestra tal o número de sons ouvido com o “rufar” dos trovões numa dissonântica harmonia onde um coral, como sussurrasse, ao fundo a clamar e orar a São Bartolomeu e Santa Clara, quando alguns passageiros levantam à hipótese de o trem parar dada a quantidade de água a penetrar pela chaminé e apagar o fogo da fornalha da locomotiva. Esses comentários infelizes só fizeram aumentar ainda mais a tensão a trazer um nervosismo incontrolável. Luiz erguendo-se, pediu calma a todos a dizer que o trem nunca pararia por isso, pois possuem um sistema de vedação eficaz dotado de drenagem que não permite a penetração da água. Nisso um cidadão impertinente, indagou se por acaso era um engenheiro ferroviário para fornecer essa informação. Sorrindo, após violento trovão, diante do tal cidadão, resolveu mentir dizendo que sim e se quisesse o mostraria a carteira a comprovar. O homem questionador, abaixando a cabeça, sentou-se e nada contestou. Luiz voltando a insistir, pediu que permanecessem em seus lugares sem se deixarem levar por absurdez desmedidas, pois logo estaríamos livres do aguaceiro.

 

Sentado, respirou aliviado por não ter que se identificar e agradecia a São Bartolomeu por dissuadi-lo da comprovação. Quanto a chuva, minutos depois amenizava sem que a viagem fosse interrompida ou atrasada.

 

Já na estação de Ouro Fino, Luiz indagou do maquinista se a locomotiva possuía dispositivo contra chuva a não interferir no fogo. Claro que a resposta foi afirmativa.

 

Conduzindo suas malas de caixeiro viajante, lá foi Luiz a caminho  do hotel, cônscio de ter feito, embora mentindo, a coisa certa.

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