20/03/2017 23h06
Operação prende quatro acusados de fomentar greve de PMs no ES
Um policial militar, um ex-PM (atualmente presidente uma associação de policiais militares e bombeiros) e duas mulheres de PMs do EspÃrito Santo foram presos em Vitória-ES e cidades do entorno nesta segunda-feira, acusados de promover a paralisação da PolÃcia Militar capixaba ocorrida em fevereiro e de tentar organizar um novo protesto, cometendo para isso vários crimes. As prisões ocorreram dentro da Operação Protocolo Fantasma, promovida pelo Ministério Público do EspÃrito Santo, pela Corregedoria da PolÃcia Militar capixaba e pela Força de Segurança Nacional.
Também foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e 17 notificações para depoimento, expedidos pela 4ª Vara Criminal de Vitória e tendo como alvos policiais militares, familiares de policiais e representantes de associações classistas.
Foram presos preventivamente Ângela Souza Santos e Cláudia Gonçalves Bispo, casadas com PMs, o ex-cabo da PM e atual presidente da Associação dos Beneficiários da PolÃcia e Bombeiros do Estado do EspÃrito Santo (Aspobom) Walter Matias Lopes e o policial militar Leonardo Fernandes Nascimento. Eles prestaram depoimento na sede do Ministério Público e depois foram encaminhados ao Quartel do Comando Geral da PolÃcia Militar (QCG), em MaruÃpe, bairro de Vitória. Todos são acusados de cometer os delitos de associação criminosa, atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública, apologia de fato criminoso, motim/revolta e ameaças a autoridades, entre outros.
Os promotores de Justiça já começaram a analisar os documentos e equipamentos apreendidos e continuarão a colher depoimentos de testemunhas e investigados. O nome da operação, "Protocolo Fantasma", foi sugerido pela Corregedoria da PM e faz referência a um dos filmes da série "Missão ImpossÃvel", em que uma equipe investiga para tentar limpar o nome da instituição em que trabalha.
A juÃza Gisele Souza de Oliveira, da 4ª Vara Criminal de Vitória, deferiu o pedido feito pelo Ministério Público e autorizou que promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) iniciassem a operação, que tem como principal objetivo identificar e punir os responsáveis por fomentar movimentos que têm impedido a PolÃcia Militar de atuar no EspÃrito Santo de forma regular. Para o Ministério Público, a transcrição de conversas telefônicas interceptadas legalmente e já apresentadas à juÃza são fundamentais para demonstrar de que maneira funciona a suposta organização.
Em trecho de uma conversa interceptada na última quinta-feira (16), uma das pessoas investigadas afirma já ter passado nos batalhões para organizar um novo protesto. A pessoa afirma que os policiais concordaram em fechar as unidades. Segundo os autos, a pessoa que dizia já ter acertado tudo com a polÃcia é uma das lÃderes do movimento paredista.
Além de afirmar já ter articulado com os batalhões o inÃcio das possÃveis paralisações, a pessoa suspeita de liderar o movimento também alegou que precisaria mobilizar mais mulheres para obstruir as unidades policiais. Ainda de acordo com os promotores, uma reunião aconteceria na casa da investigada para organizar a atuação do grupo.
Em outro momento da conversa, a suposta lÃder do movimento relata que, durante protesto realizado na quinta-feira (16), a atuação do grupo atrapalhou o trânsito no entorno da Praça Costa Pereira, no centro de Vitória.
Ao fundamentar a decisão, a juÃza destacou que "as consequências nefastas do movimento paredista da PolÃcia Militar em nosso Estado culminaram com duas centenas de mortes, uma onda de saques e furtos a estabelecimentos comerciais e suspensão de aulas, da atividade comercial, do transporte público e até das atividades do próprio Poder Judiciário."
A juÃza relatou ainda que "nesse perÃodo, a sociedade capixaba ficou abandonada à própria sorte, com seus cidadãos trancafiados em suas residências, impedidos, pela onda de violência, de exercer o direito constitucional de ir e vir. Tratou-se de situação até então nunca experimentada, naquela dimensão, pela sociedade capixaba".
"Creio não existir na literatura jurÃdica nem na jurisprudência produzida pelos nossos tribunais outro exemplo de situação que melhor encarne a justificativa de garantia da ordem pública, considerando essa como a necessidade de preservação da boa convivência social", concluiu a juÃza. (Fábio Grellet)
Fonte: Estadão Conteúdo