Não são poucos, mas muitos, os que descobriram a própria luz; esta que por milênios ficou soterrada sob os escombros de um ego temeroso e, portanto, beligerante. Sob o acicate do Estado, religiões, instituições e famílias, muitos de nós nos curvamos por séculos apoiando calados os desrespeitos, a mentira, a soberba e o ilícito que historicamente permeou todas as relações. Todavia, renascida como fênix entre as cinzas da descrença se robusteceu a esperança, a fé em dias melhores e assim sendo as revoluções íntimas e externas se impuseram e à luz de um novo tempo elas se fazem.
Ninguém mais se faz calado frente à indignidade, ao abuso de poder, ao anti-ético e, os que assim o fazem intimamente sabem que só provisoriamente o fazem e que cedo ou tarde responderão por tal. A ética de Baruch de Spinosa que nos leva a repensar nossa essência divina nos faz crer que a ética do dever de Emmanuel Kant será em fim suplantada pela consciência ética, pelo simplesmente ser, que leva em conta todos e tudo e se ainda espantados vemos pela mídia escrita ou televisa horrores acontecendo no mundo, saibamos que é o tempo do expurgo; que são as últimas gotas da borra negra que por séculos acalentamos pelas próprias criações, mas que estas estão se esvaindo e que a era da ética cada vez mais se instala entre nós.
Portanto, reconheçamos finalmente que somos faróis de luz; pois se cada um de nós reconhecermos em si, a fagulha divina que o habita, que no âmago de seu ser há pureza, beleza e luz, por ser ele mesmo um determinado aspecto externo da divindade, a maiêutica socrática de parturiar o bem, o bom e o belo em fim se farão, ajudando a todos, ainda que nada falemos, a construir um mundo melhor, mais digno, mais ético e, portanto mais humano; a trazer o céu para a terra.
E então e só assim conviveremos com todos, como parte de um imenso corpo que desconhece a diferença, mas que faz a diferença por saber intimamente que todos somos um.
Por Fátima Garcia Passos, mestre em Filosofia