29/12/2022 15h30
Polícia investiga médico por suspeita de causar mortes e lesões em pacientes
A PolÃcia Civil do Rio Grande do Sul investiga o cirurgião-geral João Couto Neto, 46 anos, por suspeita de negligência e falhas no atendimento a pacientes em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. A investigação apura as circunstâncias de 20 mortes. No total, há 77 boletins de ocorrência registrados contra o profissional, com denúncias também de pacientes que sobreviveram, mas teriam ficado com lesões.
No dia 12, a Justiça proibiu Couto Neto, a pedido da polÃcia, de fazer atendimentos ou realizar procedimentos por 180 dias. Na véspera da decisão, o médico disse nas redes sociais que exerce a profissão com "responsabilidade e maturidade".
Conforme o titular da 1ª Delegacia de PolÃcia, delegado TarcÃsio Lobato Kaltbach, responsável pela investigação, o inquérito teve inÃcio com 15 vÃtimas - sendo cinco familiares de pacientes que morreram após os procedimentos. Segundo a apuração, Couto era especialista em cirurgias de hérnia, vesÃcula e refluxo, mas realizava cirurgias para as quais não tinha especialização e até sem autorização dos pacientes.
Uma das vÃtimas, que buscou atendimento para retirada de hérnia, conta aos investigadores ter sido submetida a um procedimento de abdominoplastia, feito sem consentimento. Outra, conforme a polÃcia, foi informada, após a cirurgia de endometriose que havia sido necessário a retirada do útero e meses depois, ao fazer alguns exames, constatou que tinha o órgão estava intacto. O médico teria cobrado do plano o procedimento.
"Fomos comunicados desta situação no inÃcio de novembro, quando começamos as apurações", disse Kaltbach. Segundo ele, após as oitivas foram notados nos relatos semelhanças na conduta do médico, "com intervenções desastrosas" e "desumanidade no tratamento pós-cirúrgico", disse Kaltbach.
Segundo o delegado, no pós-operatório, o médico ignorava queixas dos pacientes e minimizava impactos de procedimentos conduzidos por ele. "Não encaminhava para UTI, porque outro médico poderia perceber o que havia ocorrido. Mantinha a vÃtima no mesmo quarto, o que agravava a situação e, por vezes, levava a óbito", afirma o delegado.
Há casos desde 2010, segundo a PolÃcia Civil. "Ele realizava diversas cirurgias em curto espaço de tempo. De janeiro a novembro, foram 1.100 procedimentos. Enfermeiros e vÃtimas relataram que ele fazia de 15 a 20 operações por turno", diz o delegado. O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) também apura o caso, em sindicância que corre sob sigilo.
Procurado, o escritório Apolinário e Diego Cardoso Advogados Associados, que cuida da parte cÃvel, disse que não iria se manifestar. Já o escritório De Lia Pires Advogados, que cuida do caso na esfera criminal, não retornou o contato.
Em publicação nas redes sociais em 12 de dezembro, quando foram cumpridos os mandados de busca e apreensão, Couto Neto fez uma publicação nas redes sociais. "Atuar como médico é sempre um grande desafio. Temos plena consciência e certeza de praticar a medicina para a melhor saúde dos pacientes", escreveu. "E com esta responsabilidade e maturidade, nos sentimos confortáveis em afirma que realizamos mais de 20 mil cirurgias e procedimentos durante os últimos 19 anos, cumprindo os mais elevados preceitos médicos, honrando essa profissão que é a melhor tradução de minha vida."
O Hospital Regina, onde ele fazia uma parte dos procedimentos e foi cumprida parte dos mandados de busca e apreensão, também se manifestou. Em nota, a instituição disse ter finalizado a entrega de documentação médica requisitada pela Justiça, mas afirmou desconhecer os detalhes do inquérito policial, uma vez que a investigação corre sob sigilo e tem como foco o médico, não o hospital.
No mandado de busca e apreensão apresentado pela polÃcia, conforme o hospital, são citados 14 nomes de pacientes deste médico. "No entanto, deste total três pacientes realizaram somente exames no Hospital Regina e das 11 pessoas que realizaram cirurgia, quatro formalizaram relato na Ouvidoria referente ao atendimento prestado pelo referido médico. As reclamações foram prontamente acolhidas e uma delas, inclusive, foi encaminhada à Comissão de Ética do corpo clÃnico", acrescenta a instituição.
O hospital afirma ainda que Couto Neto faz parte do corpo clÃnico aberto do hospital e não tem vÃnculo de trabalho via CLT ou contrato de prestação de serviço com a Instituição. "Neste caso, o médico cirurgião utiliza a estrutura do hospital para exercÃcio da sua profissão", diz. "Todos os procedimentos que constam no mandado policial e que estão sob investigação foram realizados pelo referido profissional, o qual foi escolhido pelos pacientes para realizar os procedimentos através dos convênios e meios particulares", finaliza a nota.
Fonte: Estadão Conteúdo