28/01/2023 09h40
Sem assistência, Yanomamis viram sem-teto em Boa Vista
Longe da reserva no meio da Amazônia, onde a alta de casos de desnutrição e malária fez o governo federal decretar emergência em saúde, indÃgenas Yanomami que migram para Boa Vista sofrem com a falta de apoio. Uma parte deles vira morador de rua e se torna alvo de violência e preconceito. Sem falar português, eles têm dificuldade para conseguir trabalho e até para acessar auxÃlios do governo. Também é frequente o abuso de bebidas alcoólicas.
Um dos pontos de aglomeração é a área que fica sob o viaduto Peri Lago, no centro da capital roraimense, que já sofre a pressão de outro fluxo migratório ainda maior, o de venezuelanos que chegam em busca de vida melhor. "Morar na rua é ruim, mas não posso voltar para a comunidade, pois fui expulso", diz Cauã Sanomã, de um dos subgrupos Yanomamis que vivem em Roraima. Segundo ele, muitas tribos diferentes foram viver em sua comunidade, a mais de 200 quilômetros da capital, o que provocou conflitos. Por trás desse processo, está ainda a invasão de garimpeiros na terra indÃgena. "Também não tem local para os Yanomamis em Boa Vista. Aqui nos trazem comida e trocamos por bebida", contou ele na quinta, com a ajuda de um intérprete.
No dia anterior, outro grupo de três jovens, entre 20 e 25 anos, e um adolescente dormiam embrulhados em redes que foram transformadas em lençóis. Um deles, com o pouco que falava de Português, explicou que é do grupo Yauari da comunidade Xexena, um dos sub grupos Yanomami. Esse grupo chegou a ser levado de volta para o Território Yanomani, onde vivem 30,4 mil indÃgenas, mas voltou a pé, fugindo das condições precárias da reserva. "O acompanhamento desses indÃgenas é feito pela Hutukara (Associação Hutukara Yanomami) e pelo CIR (Conselho IndÃgena de Roraima). Mas não temos casa de apoio, nem abrigo, nem local para eles", diz Nonato Cavalcante, voluntário que ajuda grupos indÃgenas em órgãos públicos. "Lá (na terra indÃgena) são vários povos e brigam entre si. Mas aqui na cidade tem muito preconceito e eles não estão seguros em nenhum lugar", acrescenta Cavalcante.
Outro agravante é a presença crescente de garimpeiros na reserva - estima-se que haja 20 mil, uma invasão que ameaça a saúde dos indÃgenas, uma vez que o mercúrio usado contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta a caça. Durante as entrevistas sob o viaduto, houve ameaças de Ãndios à reportagem. A relação deles é tensa com comerciantes e feirantes. "Eles ingerem bebida alcoólica , brigam e andam despidos", reclama o comerciante Frederico Barbosa.
Acidentes
Pouco habituados ao ambiente urbano, já foram vÃtimas de pelo menos dez acidentes no trecho que liga a área com a BR-174 (Manaus-Boa Vista), de acordo com a Hutukara. Em novembro, a jovem Ana Yanomami foi morta a tiros no local. Os atiradores não foram presos. A polÃcia diz investigar o crime.
A Prefeitura de Boa Vista informou que atende as crianças e que em 2022 foram 703 internações de indÃgenas Yanomami no Hospital da Criança Santo Antônio. Hoje, dos 62 indÃgenas internados, 46 são crianças. "Não é o Estado que é responsável. É muito difÃcil fazer o controle", disse o governador Antonio Denarium (PP), que destacou a ajuda com 12 mil cestas básicas. O Ministério da Saúde disse ter enviado equipes médicas para Boa Vista e para a terra indÃgena, além de ter montado um hospital de campanha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo