Os homens são maioria entre os usuários de cocaína e crack no país, mas as mulheres tomam a frente quando o assunto é vício. Dados do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas revelam que 54% das mulheres usuárias são dependentes da cocaína contra 46% dos homens que consomem a droga — índice trata da droga refinada e dos seus subprodutos, como crack, óxi e merla.
O mapeamento foi feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 4.607 pessoas acima dos 14 anos em 149 cidades do país, de todas as classes sociais e escolaridades. A psicóloga Clarice Madruga, coordenadora do estudo, aponta os hormônios femininos, em especial o estrógeno, como o fator principal desta mudança de comportamento. “Este hormônio potencializa os efeitos reforçadores da droga, a tornando mais prazerosa e, portanto, aumentando o seu poder de dependência.”
Patrícia Hochgraf, coordenadora do Programa Mulher Dependente Química do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas, concorda quie a evolução da dependência da droga é mais rápida entre as mulheres, mas ressalta outros pontos para explicar o índice. “As mulheres têm algumas características que ajudam a criar essa maior dependência, é sabido que o cérebro das mulheres é mais vulnerável. Além disso, elas são, notoriamente, mais impulsivas e sofrem mais de compulsão do que os homens".
Carlos Salgado, psiquiatra da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), explica que nos ciclos estrogênicos, há uma disposição maior da mulher para a ação no ambiente, ou seja, para fazer mais atividades. "Quando sobe o nível deste hormônio, as mulheres ficam mais impetuosas.
Mas a dependência é multideterminada, existem vários fatores para explicar esse dado: tem o ambiente, a questão cultural e a principal, a oferta maior da droga".
Mulheres mais tolerantes à droga
Como a facilidade de obter cocaína ou crack, mais da metade das mulheres desenvolveu uma “tolerância” maior a esse tipo de droga, ou seja, 51% disseram que precisam de quantidades cada vez maiores da cocaína (tanto o pó refinado, quanto o crack) para chegar ao efeito desejado - o índice entre os homens não passa dos 40%.
Essa tolerância pode explicar o porquê de as mulheres cheirarem ou fumarem a substância com mais frequência do que o sexo oposto.
Segundo o mapeamento, 40% das brasileiras entrevistadas alegaram usar diariamente ou ao menos mais de duas vezes por semana, já os usuários frequentes são 24% entre os homens.
Isso é um reflexo, diz Hochgraf, de uma mudança no perfil do consumo entre os sexos. “Antes, as mulheres mais velhas eram dependentes de álcool, e as mais jovens, de drogas.
Mas, em menos de 5 anos, mulheres acima de 35 e 40 anos, casadas e com filho procuram o HC para tratamento da dependência de drogas. Mulheres com família viciadas em crack é um fenômeno muito recente e assustador”, conclui.
Fonte: BOL