Nesta quarta que sempre retorna, penso em minha Arcádia, meu compromisso com as sementes e as raízes me fazem abrir meu pequeno baú. Lembro de Sophia, a que ainda não chegou, a que já me assaltou muitas vezes. Sophia, um fantasma, uma sombra que anuncia o fora da caverna. Vem tomar seu café, seu vinho, seu chá. Minha paleta te aguarda e junto dela todas as telas do mundo.
A PROCURA DE SOPHIA
Pensei em fazer uma performance
E de sua reminiscência um livro
Se chamaria
"A procura de Sophia"
Publicaria uma mensagem dizendo
estar à procura de mulheres
com o nome Sophia.
Iria até as suas cidades
para passar um dia com elas
e pediria que me guiassem
em seus caminhos
tentando entender
quem seriam
as Sophias,
como seriam,
o que seriam.
Sem minhas
projeções e recalques
(será isso possível?)
tentaria entender
quantas Sophias
pode-se encontrar
numa vida.
Delas faria
pinturas impressionistas
porque o que mais
seria eu capaz
se só passeei alguns
instantes em
seus caminhos?
Somente me caberiam
suas impressões.
Suposições de suas cores
suas efêmeras
luzes crisálidas
como diz o filósofo.
Dessas cores ficariam
a sobrevivência
das ausentes memórias
que escapam
como o sol
no fim dos dias.
Nunca seria capaz de fazer
uma pintura realista
de uma Sophia.
Como capturar a realidade
pela imagem?
A imagem é dupla.
Ela é tão distante
de mim
quanto eu
sou dela
Ela não me pertence
não pertence
a ninguém
O caminho que me faz
percebê-la
é o rastro sombrio,
a fuga que indica
que ela não sou eu
mesmo que a persiga.
Nos caminhos das
procuras por Sophias
provavelmente encontraria
pequenas raridades
que somente
vazio e nu
poderia perceber.
Somente quando não
as procurasse
poderia encontrá-las
e talvez a constância
permitisse-me
ser tocado por elas,
sem pontos de fuga
sem duplas distâncias,
sobrevivente.