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Opinião
15/12/2016 11h28

A benção de São Francisco de Assis

Ao cair da tarde, ao deixar a redação do jornal, resolvi caminhar até a estação férrea de São Lourenço, a fim de quem sabe, encontrar subsídios às crônicas, ”Na Fumaça do Trem”, independente de curtir o bucólico e agradável logradouro, cujas recordações e lembranças sempre fluem da memória a trazer momentos que marcaram minha infância e puberdade.

Já à plataforma da estação sentei-me num dos bancos ali dispostos e, de olhar perdido naquele complexo ferroviário onde funcionários executavam suas tarefas, como: higienização dos vagões, limpeza da plataforma, empilhamento dos tocos de eucalipto entre outras ocupações, quando tive atenção desviada por um casal de canário da terra, que esvoaçante se utilizava de um comedouro e bebedouro posicionado à ponta do telhado da plataforma defronte a que me encontrava. Surpreso, pois raras às vezes que desfruto deste prazer em vê-los em liberdade, fiquei a admirá-los e me veio à memória uma passagem ocorrida à cidade de Campanha, MG, justamente à estação férrea – na infância a tinha como ponto de referência às minhas andanças e folguedos – que costumava apreciar a infinidade de pássaros que ali se aglomeravam, provocado pela empresa selecionadora de café e das perdas espalhadas pelo chão dos sacos  durante  o embarque e desembarque de milho, quirela, arroz, etc... As aves não sei, se por acostumarem com minha presença, não se assustavam. Um dia, porém, ao chegar notei que pouco eram as aves ali, embora a fartura de quirela fosse apreciável. Intrigado, fiquei a procurar o motivo da ausência, a percorrer toda a área. De repente, após a passagem de um cargueiro, que havia tracionado dois vagões que à linha auxiliar aguardavam à retirada, visualizei que a cerca margeante ao leito de arame farpado, mantinha-se repleta de pássaros pousados, que se debatiam na tentativa de voar sem conseguir. Atravessando os pares de trilhos, atingi a cerca e pude constatar que os animais se mantinham aprisionados pelos pés ao arame farpado. Pegando o primeiro, um belo canário, com certa dificuldade evitando machucá-lo, o retirei a verificar que seus pés possuíam uma goma; era visgo de jaca, segundo meu pai Luiz, usado para pegar pássaros. Limpando seus pés, livrei um a um da armadilha. Não contei, mas creio que foram mais de 50, pois fiquei por mais de uma hora libertando-os e a limpar o visgo.

Ao deixar o local, tendo as mãos untadas e grudentas, as lavei me utilizando da Maria fumaça estacionada no pátio de manobra, cuja torneira com o auxílio do pó de carvão e terra ajudaram-me na lavagem das mãos a deixa-las limpas. Retornando, a caminhar pela plataforma, “o velho Paixão” lá estava e então me dirigindo a ele, falei sobre o lamentável ocorrido. Virando-se a mim, falou: -  Filho, esta maldade é praticada por inescrupulosos que se valem disto no intuito de vende-lo aos também imbecis que as compram, sem se importarem que a liberdade dos animais é a mesma que as tem em suas vidas, mas que aos animais a eles nada representa a não ser sua prisão, ou seja; uma gaiola ou um viveiro. Felizmente você, garoto, embora uma criança, tem sentimento e merece por isso a benção do nosso São Francisco de Assis.

Ao passar pelo local onde as aves se alimentavam, já era grande a presença dos pássaros. Parado a apreciar o momento que me trazia satisfação e por ser talvez lembrado, acredite ou não, por um canário que se  empoleirou  ao meu ombro permanecendo por alguns segundos após se lançar em voo, sorrindo, segui meu caminho ansioso para contar a meus pais o momento que vivi, claro, por intercessão de São Francisco de Assis.

Moral da história:  Nunca deixei até hoje em reverenciar São Francisco de Assis no dia 04 de outubro, pois me senti agraciado pela benção recebida por aquele simples gesto espontâneo de uma criança, que viu os pássaros preso em uma armadilha e sobre cuidado os libertou de um evidente degredo.

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