Por Fernando Rizzolo *
O que está acontecendo no Brasil? A lama de Mariana em Minas Gerais me dá a impressão de que até a natureza se revela indignada, parece evocar a ideia de um espelho desta assombrosa fase que o país está passando. Aquele lamaçal que permeia toda a região é o mesmo lamaçal ético com o qual sofremos inconformados diante de tanta roubalheira, numa coexistência espúria entre políticos corruptos e a nata empresarial brasileira que já é motivo de chacota no exterior.
Com o desemprego em alta, mercado imobiliário parado, inflação, banqueiros e empresários envolvidos em corrupção, muito embora ainda não condenados, que investidor internacional irá apostar num país em que a crise financeira esbarra na moralidade político-empresarial? Na verdade, até eu mesmo estou farto. Imagino ter a tranquilidade de um dia parar de vez com artigos ou textos sobre política, corrupção, lama e crime. Então, talvez escreva um romance.
Passei quase um mês em Londres e, como durmo cedo, me encharquei de noticiários. Todos falavam do terrorismo que agora assola a Europa, mas, sinceramente, a questão islâmica fundamentalista me parece controlada pelas potências militares. Acredito que o tempo dissipará os muçulmanos fanáticos, dando lugar à grande maioria não extremista. Mas, observem que a questão na Europa é ideológica, mas aqui não, amigos. A questão por aqui é moral, envolvendo a política e o alto escalão empresarial, fazendo da nossa democracia uma pobre refém dos maus costumes e das negociatas.
É emblemática a visualização daquele lamaçal numa reportagem da BBC, vista de fora, e logo após notícias sobre a corrupção no Brasil. Sei que muita coisa ainda virá. A delação premiada é sempre uma caixinha de surpresas, move montanhas e jovens banqueiros ambiciosos num país pobre, desgovernado; um país vítima de seu próprio destino, vez que a grande maioria da população não consegue ter uma posição política firme, pois poucos têm acesso à leitura e aos jornais em função do baixo nível educacional.
Nos resta o Judiciário, portanto, com a intenção do provimento jurisdicional nas posturas dos magistrados, a de apontar e punir os agentes delituosos. Alcançado isso, o rio da “pátria educadora” será, enfim, lavado da lama poluidora e, finalmente, terão lugar os bem-intencionados e os que sonham com um Brasil de águas límpidas… Vou pensar no meu romance...
*Fernando Rizzolo é Advogado, Jornalista, Mestre em Direitos Fundamentais e membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP