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Opinião
31/01/2013 17h36

A comilança (I)

Filipe fala sobre um grupo de amigos que combinavam reunir-se ao redor de uma mesa e comer até morrer.

Não estou me referindo a um filme que foi exibido em nossas telas há cerca de 30/35 anos. Se me lembro bem, era sobre um grupo de amigos que combinaram reunir-se ao redor de uma mesa e comer até morrer. Ao final, todos morreram. Não. Neste momento, vou reportar-me a fatos da vida real.

Muitos têm conhecimento do quanto as famílias sírio-libanesas dão importância à qualidade e à quantidade da comida. Costumo dizer que, ao contrário da gente, eles não comem para viver, mas sim, vivem para comer. A parte mais importante da casa para eles é a cozinha e a sala onde fazem as refeições. Para mim, um bom quarto e um bom banheiro. Desde criança e mais ainda, quando fui me tornando um jovem, reparei o quanto isto era importante para meu pai, nascido no Líbano. Nunca notei que ele desse importância para uma boa casa, uma bela mobília, um carro. Mas para uma boa mesa, valha-me Deus! Como estimulava a gente a comer e a comer bem. Todos os dias eram feitos um almoço e um jantar com qualidades diferentes de comida, uma mesa farta e variada, para dez pessoas. Coitada de minha mãe!

Nos tempos de faculdade trouxe um colega para passar uns dias aqui em casa e para conhecer minha cidade. Era uma pessoa extremamente rica e acostumada a frequentar grandes hotéis e restaurantes, no Brasil e no Exterior. Quando estávamos voltando para o Rio, falando sobre suas impressões da viagem e da cidade, uma das frases que ficou marcada em mim, foi:

 −As refeições em sua casa deveriam ser incluídas entre as grandes atrações turísticas da cidade. Aquela mesa com todas as variedades possíveis. E ainda por cima seu pai insistindo para as pessoas comerem mais .

Quando conheci o Líbano e vieram os convites dos gentis e queridos parentes, muitos deles hoje falecidos, para almoçarmos ou jantarmos, fiquei assustado. Eu sabia do costume deles, mas não sabia da extensão do assunto. Houve almoços que foram iniciados ao meio-dia e terminaram às 17 horas, ou seja, cinco horas de comilança.

Quando tiravam uma mesa e eu dava graças a Deus pensando que tinha acabado, vinha outra: os pratos quentes, os frios, os doces, as frutas. Mesa atrás de mesa. E eles insistindo para a gente comer e comer e ficando tristes, achando que a gente está comendo pouco. Isto pode significar que não estamos gostando da comida. Aí , vinha o dono da casa e nos fazia comer mais um pouco, colocando no prato e falando:

−Isto você vai comer por mim.

E assim íamos comendo e cada membro da família fazendo a gente comer mais um pouco,  dizendo:

 −Faça isto por mim.

(continua)

 

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