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Opinião
16/10/2014 16h13

A desventura de Felisberto

José Luiz Ayres

Numa ocasião quando curtíamos um descanso merecido, a dar aos nossos corpos e mentes pela estafante vida que uma estressante metrópole como do Rio de Janeiro nos impõe, aquele início de semana optamos pela bela e gostosa cidade serrana de Friburgo no intuito em renovar e, recuperarmos as energias desprendidas, as quais somos fadadas a conviver, num calmo e tranquilo hotel a nos proporcionar aquela quietude que buscávamos, onde a natureza na sua plenitude e magia fazia com que desligássemos por completo daquele estresse constante da dita cidade maravilhosa com toda sua beleza, canta em versos e prosas por esse mundo a fora, a nos torturar com seu cotidiano.

No segundo dia de hospedagem com a frequência bem reduzida de pessoas, a final não estávamos em período de temporadas ou feriadões e fins de semanas, observamos que um casal, provavelmente com o nosso intuito, descer de um taxi à porta do hotel e se dirigir à recepção. Ele um cidadão de meia idade e ela uma balzaquiana a expor sua beleza e dotes físicos bem atraentes.

Sem querer dar de fofoqueiro, abelhudo ou pitonisa, comentei com minha mulher que aquele casal parecia um tanto complicado e tinha algo em ser uma aventura, pois o comportamento e atitudes mostravam-se fora do comum, fato confirmado posteriormente durante o convívio, a se esgueirar procurando evitar encontros, embora poucos, com os hóspedes às dependências do hotel. Em fim, tornava-se claro que se ocultava do “mundo”, por mais que fosse considerado introvertido, tímido ou coisa que o vale. Mas que havia algo estranho não tinha duvida.
Numa tarde sentados a um dos bancos à frente do hotel, envolvidos na paz e na quietude sob madorna, fomos despertados por um taxi ao chegar transportando uma senhora, que é recepcionada ao descer pelo educadogerente a conduzi-la ao interior do prédio a postar sua mala e valise.

Despertos da sonolência, resolvemos caminhar até ao centro da cidade, onde curtimos e participamos um pouco da “civilização” para não perder o hábito de urbanos. Após o passeio agradável, já no hotel, decidimos dada a queda da temperatura, nos resguardar e fomos à sala de estar onde se localizavam as térmicas com chá e café. Ao chegarmos ao local, lá se encontrava aquela senhora recém-chegada a qual servi o seu chá e a partir de então se pôs a conversar. Conversa vai, conversa vem, mais para vem do que vai, de súbito num relance observei ao atravessar o jardim aquele casal de “pombinhos” que se chega à porta do hall de entrada e de súbito o cidadão detém o passo a retirar o braço enleado à mulher e retorna apressado ocultando-se a deixá-la talvez perplexa pela atitude abrupta do amado, em largá-la só. Curioso a observar a cena, de repente a mulher penetra no salão indo em direção a recepção e passa a conversar com o gerente por instantes, para em seguida deixá-lo e retira-se à direção dos aposentos.

Depois de Jantar, acomodados à sala de estar a assistir o telejornal, vejo um taxi se chegar, em que o motorista saltando vai à direção da recepção e retorna conduzindo duas malas, para logo a seguir aquela balzaquiana, portando a bolsa e valise cruza o hall a embarcar no veículo apressada e visivelmente aborrecida.

Pela manhã, quando deixávamos o refeitório, somos surpreendidos pela tal senhora, a dizer que foi Deus que a fez optar por este hotel, pois não é que um taxista que aqui esteve, veio entregar as carteiras de identidade e de motorista do seu genro Felisberto!
De imediato ligou à filha a contar o ocorrido e se surpreender com a revelação de que o genro havia viajado a Curitiba a trabalho! Um tanto pasmada e interrogativa coçou a cabeça e nos perguntou: - A final não foi muita coincidência acharem os documentos aqui em Friburgo se ele está em Curitiba?

A olhar minha mulher, esbocei leve sorriso e me dirigi a inocente senhora, a dizer que tem coisas que acontecem nunca explicáveis, mas as coincidências explicam os inexplicáveis que aconteceram e a prova está ai nas suas mãos nos documentos aqui entregues. Ao demonstrar certa incompreensão, a mostra-se um tanto confusa, meneou a cabeça, deu de ombro e saiu a degustar seus desjejum.

Ah...esses ditos “turistas” imbuídos em suas aventuras casanovescas, quando se vêem em apuros ao praticar suas “performances” aventureiras que por obra do destino sempre acabam em desventuras; lamenta-se, mas que nos oferecem instantes p´ra lá de pitorescos, não podemos negar. Nesse caso, Felisberto vai ter que se explicar e muito pelas coincidências. Felizmente o gerente não deu as coordenadas da estadia no hotel do Casanova, cujos documentos deixados no taxi, dada a pressa em se escafeder o complicariam bastante, como não bastasse a coincidência da senhora em tê-los visto sobre o balcão à recepção e os ser entregues pela confirmação do parentesco: ou seja, a sogra! Autorizada pela filha a entregá-los a sua mãe, no que o gerente, sem argumento, o fez um tanto contrafeito. A final não havia como negar...

 

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