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Opinião
18/12/2014 14h30

A gorda e a blusa Vermelha

José Luiz Ayres

De súbito, aquele cidadão que no barzinho da estação férrea de São Lourenço deixava uma das mesas externas, onde sentado lia a nossa coletânea; Na Fumaça do Trem, se chega ao balcão solicitando da moça um outro exemplar, pois iria presenteá-lo a um amigo. Observando-o discretamente e, porque não me sentir um tanto envaidecido, afinal mostrando-se entusiasmado, me pareceu de fato gostar do que lia, a ponto de levá-lo a seu amigo, mesmo acabrunhado o indaguei se a coletânea o satisfez diante dos episódios descritos.

Esboçando leve e simpático sorriso, respondeu-me que sim e também me recomendava adquiri-lo. Ainda um pouco sem jeito, declinei em revelar, mas o fiz dizendo ser o autor e gostaria de ter opinião sincera sobre a obra em si. Demonstrando perplexidade, após cumprimentar-me, abriu o seu exemplar juntamente com o que acabara de adquirir e solicitou-me uma dedicatória, mesmo não sendo manhã de autógrafos. Diante da solicitação assim o fiz ao seu Jorge, como se apresentou e do amigo Marcírio naturais de Sorocaba (SP).

A partir de então, permanecemos a conversar, onde passou a falar sobre o amigo, que serviu por muitos anos à Estrada de Ferro Sorocabana e possui magnífico histórico a ser contado. Afinal galgou todos os degraus na carreira de ferroviário até aposentar-se como chefe de estação.

Entre as variadas histórias, recorda-se que certa vez Marcírio como fiscal e encarregado na verificação das passagens, ao penetrar no primeiro vagão dando início a sua tarefa, observou que uma mulher gorda abriu a porta oposta conduzindo uma mala deixando apressada o local. Ao passar ao segundo vagão, aquela volumosa mulher, novamente repete a mesma operação. Estranhou o procedimento, mas deu de ombro e seguiu sua missão, embora a coincidência o intrigasse.

Depois de percorrer os vagões, ao chegar no último, nota que uma mala permanecia ao chão, semi escondida à porta do toalete, onde se sobressaia uma peça de roupa na cor vermelha pela fresta. Aquela mala lhe trouxe à memória a tal mulher gorducha do primeiro vagão, pois a portava chamando a atenção o adereço colorido.

Mas onde se encontrava a volumosa criatura? Aproximando da mala, abriu a porta do toalete e nada encontrou. Acionando a maçaneta da porta de acesso à varanda, também nada de anormal havia. Retornando, intrigado, optou por ficar à espreita à varanda entre o último e penúltimo vagão, a observar a mala. Não demorou muito, a porta do penúltimo carro é acionada e eis que surge, a gorducha, que dando de cara com Marcírio, espantou-se e sem nada a dizer, direcionando ao último carro, onde foi contida e impedida de entrar sem antes apresentar o bilhete da passagem. Mesmo alegando que o havia picotado, fazendo-se de ingênua finge procurá-lo. Como evidente não o encontrou, Marcírio solicitou que pagasse nova passagem. Esbravejando, atribuindo não ser justo o procedimento, recusou-se dizendo que ele estava lhe “roubando”. Marcírio mostrando-se calmo, sem se exasperar, solicitou-a apanhar a mala cuja peça vermelha mantinha-se exposta. Resmungando entre dentes proferiu: - Maldita blusa vermelha! Porque não a coloquei pra dentro da mala.

De volta, contrafeita pagou sua passagem e seguiu viagem, depois de gentilmente Marcírio agradecer pela atenção e dizer que não foi só a veste vermelha, a denunciá-la, mas sim o sobejo volume apresentado. Seria difícil não achá-la!

 

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