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Opinião
22/08/2013 11h37

A língua, um espelho

Bebeto Andrade fala da dificuldade da nossa língua portuguesa.

por Bebeto Andrade,
de Cruzilia-MG

 

Um dos problemas da administração pública no Brasil é a falta de intimidade com a língua portuguesa. Além do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e dos casos de corrupção, alguém poderia estabelecer um ranking das prefeituras que mais cometem atentados contra o idioma, levando-se em conta a quantidade e a gravidade dos erros publicados com timbre oficial. No mínimo, seria um bom indicador dos efeitos cômicos que a falta de investimentos em educação provoca. Muita gente ri e acha que o assunto é brincadeira, mas o emprego correto da língua, aquilo que um povo tem de mais característico culturalmente, não é apenas um dever dos órgãos públicos, é um compromisso com a ética. A ética ensina que ninguém deve impor regras quando não demonstra disposição para cumpri-las; sendo assim, um comunicado oficial sem a mínima correção idiomática perde em credibilidade, pois é a voz de quem pretende estabelecer deveres e obrigações e, portanto, deveria respeitar o código em que se expressa, a língua portuguesa. Por exemplo, como confiar em um edital que anuncia um “concurço público”, escrito desse jeito? Um caso curioso ocorreu com Graciliano Ramos, o grande autor de “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”. Quando foi prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas, o escritor enviava relatórios ao governo do estado, e suas análises eram tão claras e bem escritas que lhe valeram um pouquinho da fama que conquistaria mais tarde. Obviamente ninguém exige que algum prefeito atual tenha o talento de Graciliano, mas também não podemos nos conformar com a proliferação de adeptos da gramática do sô Creyson, que parece encontrar équio, digo, eco por todo o país. Uma das causas das falhas de comunicação dos órgãos públicos, sem dúvida, é a mania que o brasileiro tem de achar que sabe tudo, sem nenhuma humildade. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, entidade de muito respeito, publicou a mesma frase incorreta 15 vezes, no mesmo edital: “Não houveram candidatos classificados”. Dizem que o reitor do Instituto está dando pulos e soltando fogo pelas ventas, mas infelizmente não pode demitir ninguém, pois os responsáveis pelo texto são todos “concurçados”. Na verdade, a insistência em publicar textos com incorreções compromete a dignidade de qualquer administração. Em primeiro lugar, porque a administração pública deve dar exemplo de boa convivência com o idioma pátrio, para evitar confusões de sentido e até a anulação de atos administrativos. Em segundo lugar, porque publicações oficiais devem refletir o cuidado e o capricho com que se administra uma cidade, um estado, um país. Sem esquecer, claro, que o desleixo e a pressa apenas indicam descaso com a opinião pública.

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