Não poucas vezes o prazer de estar junto traz consigo o vício de comentários negativos sobre os que estão a distancia ou ausentes do recinto. Mas não precisa ser assim. Há pessoas que por mania sucumbe a este desconforto. Mas infelizmente esta atitude é comum. O que o outro faz, diz ou não faz, constitui problema único e tão somente seu e não cabe a nós, perfectíveis que somos julgar a quem quer que seja baseado em nossos conceitos ou pré-conceitos.
Quem assume a atitude de questionar as andanças alheias é sem dúvida um câncer moral estendido no tecido social de sua própria convivência. Várias são as causas que originam a maledicência, a primeira delas é a falta de critério moral. Quem sabe que este agir é eticamente falando por si só algo mal se é coerente consigo mesmo, omitiria tal ação. Esta primeira razão é sem dúvida o maior fundamento, a mais importante; transgredir as normas morais é gerar a própria degradação. Quem se compraz com a maledicência causa dano a si mesmo.
Toda pessoa por direito de sê-lo traz em si um código ético (natural) que deve respeitar da mesma forma que não viola seu código biológico. O homem no campo da moral não pode fazer o que quer (tão pouco com seu corpo), não se trata de estratégias, mas de dever. É necessário seguirmos as leis internas a fim de que nos enriqueçamos. Segundo Cícero, autor do livro “Lélio, ou a amizade” senador da República romana, o ato irregular desorganiza e prejudica a própria pessoa, por ser um perversor da natureza humana que traz em si um roteiro legislativo que deve ser levado em conta, assegurando ao agente um desenvolvimento na linha da perfeição.
Outra razão que leva a maledicência é a falta de assunto, de cultura, de conhecimento. Há tanto do que se falar, um bom debate assistido na TV, o tema de um livro redigido ou lido, as novas descobertas em todos os campos. Por que então falar sobre pessoas em particular? Portanto o mais sensato é abster-se de comentar sobre a vida alheia ou porque isto não enobrece a conversação ou por não estarmos seguros do que falamos. Também o mimetismo cometido pelos meios de comunicação influi desastrosamente por imitação nos juízos infundados das pessoas. Cada dia são mais frequentes os programas televisivos, cujo tema é a vida privada dos incautos que trazem audiência. Este tipo de programa não facilita a discrição que se deve ter sobre a vida privada das pessoas, antes deseduca quem os assiste.
Em respeito à pessoa que não participa da conversa, em consideração a sua dignidade e em respeito a nós mesmos devemos nos abster de tecer comentários sobre a vida alheia, mesmo porque os que são realmente cultos e corretos, não falam nem de si mesmos, fugindo do personalismo que também graça entre nós, mas falam de assuntos que elucidam, constrói e educam o mundo em que vivemos; porque como colocava Sócrates, o filósofo, se o que vamos falar não contribui para a construção de um mundo melhor seria melhor que nos calássemos, pois como diz o adágio: o silêncio vale ouro e a palavra é prata que pode se oxidar.
por Fátima Garcia Passos, mestre em Filosofia