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Opinião
20/02/2014 11h29

Anjo não tem sexo!

José Luiz Ayres

por José Luiz Ayres

Numa ocasião quando desfrutava das delícias da cidade serrana de Lumiar, distrito de Nova Friburgo, RJ, a curtir em toda plenitude sua exuberante e magnífica natureza, que nos deixava transparecer num retrocesso mental como estivéssemos a viver em décadas passadas, envolvido pelo momento prazeroso  que se evidenciava a cada passo dado, de súbito , entre os ruídos e sons proporcionados pela mata, tive a percepção em ter ouvido algo como uma voz; me parecia, a pedir por socorro. Retive por instantes à caminhada a tentar observar se de fato era uma voz. Como não ouvi novamente, prossegui a caminhar e mantive-me  atento, embora já observasse, mesmo distante o ruído proveniente das quedas d’águas da cachoeira indicada pelas setas de orientação aos caminhantes. Todavia, o que causava estranheza durante os quilômetros caminhados, era a ausência total de pessoas naqueles 2,5 Km percorridos, o que me fazia crer que o som que percebera, foi apenas um entre tantos em meio a floresta.

Absorto de tudo, de repente, um pouco adiante e surpreendido sobre a picada a qual seguia, com uma mulher enrolada numa tolha vermelha, visivelmente desnorteada a denotar desespero, chorando, que se lançou do meio da mata margeante e veio à minha direção a abraçar-me e a clamar em desespero, para ajudá-la salvar sua amiga que fora atacada por uma cobra quanto curtiam a cachoeira. Perplexo diante da aterrorizante notícia, em disparada,  seguido pela mulher, lá fomos nós no rumo da cachoeira, onde em menos de dez minutos, ofegantes e estropiados, chegamos e, por orientação da aturdida amiga, localizei o local a observar de trás de uma pedra; pois via-se suas pernas estendidas sobre um pequeno relvado, a desafortunada criatura.

Descendo o tortuoso e limoso caminho, atingimos a margem esquerda do rio, onde a pedir que aguardasse e com o auxílio de um galho ali encontrado, me pus a atravessar o rio a me utilizar das pedras, onde as corredeiras mesmo moderadas dificultavam apoiar-me à fixação das passadas a evitar escorregar. Finalmente a observar onde faria a caminhada, cheguei  a pobre mulher, que deitada sobre o relvado, chorando copiosamente, a tremer; não sei se pelo frio ou pelo emocional, indaguei onde foi ferida. Olhando-me, tomada por uma palidez, conseguiu balbuciar apontando à sua panturrilha esquerda. Dando a volta, pude verificar o ferimento que se apresenta com pequeno sangramento já coagulado. Agachando-me, observei que a ferida em princípio não me pareceu tratar-se de mordedura de serpente, pois se mostrava mais num simples e superficial arranhão. Porém, como não sou biólogo e nenhum “exper” em ofídios,  mas sim um conhecedor de répteis, um pouco aliviado e tranquilo , procurei acalmá-la; se é que nesse trágico momento conseguiria , e tentei que dissesse algo como tudo aconteceu e sobre o animal  como: tipo, coloração e sobre o ataque em si. Embora sob tensão, trêmula, deu a sua versão, a dizer que a cobra era de cor esverdeada, um pouco fina e tamanho com pouco mais de um metro pelo que pode ver, e serpenteava de forma ágil na sua locomoção , tanto que ao vê-la aproximar-se procurou correr a gritar e acabou escorregando à grama úmida indo ao chão sobre o pequeno e rasteiro arbusto. A partir de então, passou a sentir ardência na perna e apavorada ficou a observar o ferimento.

 

Com a certeza absoluta que não fora dentada pela cobra, procurei acalmá-la a dizer que tudo não passou de um grande susto e que o ferimento foi causado ao cair sobre o arbusto, pois os ataques de serpentes de uma forma geral são sempre frontais a produzir pelas presas, dois orifícios paralelos, e não da maneira que se verifica em sua perna, onde vemos a existência de um arranhão, cuja  perfuração não se caracteriza algum orifício. Ainda mais que pelo animal descrito não é peçonhento e sim de um ofídio conhecido como “limpa campo”.

 

Pondo-a no colo, transpusemos o rio, a ter o auxílio da amiga que veio nos ajudar e, colocando-a a margem, deitada, já bem tranquila a dizer a colega, que ainda  apavorada e nervosa debulhava-se em lágrimas, que estava tudo bem, pois seu “anjo da guarda” com seus conhecimentos ofídicos me fez voltar a viver.

 

A amiga a cair de joelhos, após fazer suas orações, já expondo belo sorriso e enxugar as lágrimas, fica por instantes a sorrir de contentamento, quando arregala os olhos a por as mãos à face e abismar-se, fala:

 

- Leia você já notou que está completamente nua?

 

Sorrindo, Leia treplica: - Já, afinal anjo não tem sexo!

 

Moral da história:  A prática do ecoturismo, torna-se necessário que tenhamos um mínimo de conhecimento ao se aventurar por lugares onde não nos familiarizamos, sob pena de ficarmos a mercê e subjugados a situações às quais não imaginamos ocorres.

 

Ah... esses turistas classificados como “urbanoides”, quando se acham senhores de si e veem o quanto são uns estranhos fora do ninho, são sem dúvida muito pitorescos, a nos proporcionar momentos hilários e às vezes além da conta diante da situação apresentada.

 

 

 

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