Antônio um simpático cidadão que atualmente tenho a distinção em desfrutar de sua amizade, segundo Paulinho, outro amigo como vários tantos que fazem parte deste clã das rodas diárias de papos de fim de tarde no Café Central, resolveu narrar um episódio cujo trem foi a tônica, tendo em vista ser Antônio o personagem, quando em São Lourenço curtia seus prazeres anuais, oriundo o Rio de Janeiro onde vivia, mais precisamente no bairro do Leblon.
Naquela oportunidade no início da década de 50, jovem, cheio de energia trazendo à bagagem de um garotão conquistador da capital a experiência da “malandragem”, recheado de boas intenções repletas de convincente lábia, esperto, possuindo um cabedal extenso de falácias envolventes a deixá-lo absoluto, passou a ter pela cidade certo carinho, tanto que anos depois optou por adotá-la em definitivo como novo residente.
Como todo jovem, Antônio com fama de garotão safo, recém-chegado da capital, tinha nas suas tiradas e falácias a simpatia a cativar os amigos “minhoquenses” a demonstrar seus predicados envolventes às conquistas amorosas sempre ressaltadas nas prosas entre amigos “são lourencíanos”. Além dessas características e narcisista por adoção, tinha o hábito no comparecimento à estação férrea “a azarar” com seus olhares a atrair a mulherada que deixava os trens como possíveis turistas, se dizendo à época em participantes de estação de águas.
Contou-nos Paulinho, que numa ocasião, àquela tarde lá se encontrava Antônio à plataforma da estação, quando aportou o expresso oriundo do Rio de Janeiro. Entre atenção e olhares de galanteador na possível paquera à busca de obter sucesso, quando de repente observa duas atraentes morenas que ali parecendo um tanto desnorteadas em meio ao desembarque, Antônio se aprumando, alinhado na fatiota impecável e acertando seu característico chapéu à cabeça, saiu à direção das duas onde jogando todo o charme, se apresentou a oferecer ajuda. Claro que houve por parte das turistas o interesse em obter informações e, após rápido diálogo, deixaram a estação a alugar uma charrete, onde seguiram ao indicado hotel por sugestão de Antônio.
Galanteador contumaz, irradiando simpatia, cheio de charme enquanto troteava no veículo, Antônio se ofereceu em acompanhá-las durante o período de permanência à cidade, no que para sua alegria, houve concordância das mulheres. Chegando ao hotel, com toda cortesia que o momento exigia, fez questão de pagar o transporte e seguiram à portaria onde conhecendo o gerente, as apresentou como sendo velhas amigas do Rio de Janeiro, que aqui pela primeira vez a seu convite estavam.
Durante aqueles dias subsequentes, esbanjando autoconfiança como senhor de si pela “conquista”, cheio de rapapés, sua presença junto aos amigos se fazia sentir um “Don Juan”. Era pela manhã, tarde e noite a desfilar pela cidade ao lado das morenas a exibir seus troféus, quando finalmente pondo em prática sua lábia, conseguiu convencer uma delas a visitá-la a tarde em seus aposentos no hotel, no que aceitou, após oferecê-las um almoço especial no próprio hotel, já que embarcariam na manhã seguinte de retorno ao Rio de Janeiro. Concluído o almoço, Antônio deixou o local dizendo que voltaria por volta das 16hs de acordo com o combinado. Só que ao chegar ao hotel à hora marcada, ansioso, cheio de gás se posicionou à sala de estar ao esperar pelo sonhado encontro. Mas com o tempo passando, foi à portaria a solicitar que chamasse a hóspede do quarto tal, pois Antônio a aguardava no hall. Então veio a surpresa, quando lhe foi informado que as hóspedes haviam deixado o hotel, a embarcarem no expresso das 16:45hs. Aparvalhado, Antônio olhou o relógio, 16:35hs,e, fazendo menção de sair, foi interrompido no ato, com o funcionário a lhe passar a conta das hóspedes a dizer que o senhor era responsável por tudo, já que era velhas amigas do Rio e que aqui estavam pelo insistente convite do amável amigo Antônio.
Após o acerto, no que pisou à calçada da rua, ouviu ecoar ao longe o apito do trem deixando a estação de São Lourenço a levar o seu esperado sonho que o deixara de carteira vazia...
Antônio, qualquer duvida procura o Paulinho!