Mais uma vez, estou a apresentar aos amigos leitores, e aqueles em especial que me proporcionaram com suas mensagens enviadas pelas festividades decorrentes do Natal e de final de ano momentos que me tocam bastante, meus sinceros agradecimentos desejando a todos meus votos de felicidade, saúde, prosperidade e muita paciência a aturar este estado de coisa que ora nos entristece. Mas como a vida que segue, me reporto na um episódio contado por meu saudoso pai, Luiz , quando por volta de 1932, embarcado no expresso a conduzi-lo ao sul de Minas, se viu envolvido numa confusão, como não bastasse a situação conflituosa que o pais se encontrava pela dita insubordinação dos irmãos paulistas, em que qualquer simples atrito era motivo de encrenca, a qual querendo contemporizar, foi obrigado a se defender de ataques tanto verbais como físicos, por tentar proteger um cidadão paulista, que na sua poltrona tranquilamente viajava e passou a ser ameaçado.
O furdunço iniciou-se, porque em determinado momento, um cheiro forte começou a empestear o vagão de forma insuportável, a causar certa indignação aos passageiros, à medida que pelo frio à subida da serra da Mantiqueira se intensificava a fazer com que as janelas fossem arriadas. Sem que se pudesse imaginar o que era, o bochincho e a irritação se configuravam mais agressivos. Luiz à sua poltrona, mesmo sentindo aquele mau cheiro, mantinha-se paciente utilizando-se do lenço sobre o nariz. De repente, ao olhar o chão à procura talvez de algo que justificasse o insuportável odor, observou a duas poltronas na frente, um cidadão com os pés desnudos a se refrescar, ou seja; descalços, fora das botinas que se posicionavam embaixo da poltrona. Curioso, até porque seria impossível se ter um chulé tão forte, resolveu sentar-se, dado o lugar estar vago, ao seu lado. Óbvio que matou a charada, pois incrível que pareça, o homem era mesmo o chulepento, ainda ajudado pelo odor fétido exalado das botinas e aliado evidente à falta de higiene. Retornando ao seu lugar, ficou aguardando à chegada do chefe do trem, que logo a seguir se chegou e o chamou a falar sobre o assunto. De acordo, pois o chefe também sentiu o problema, e dirigiu-se ao homem que dormitava, a expor a situação, e, a solicitá-lo que pelo menos calçasse as botinas. O cidadão mostrando-se injuriado, pelo que pareceu ao menear a cabeça negativamente, retrucou vociferando alto em bom som, que os inconformados mudassem de vagão, pois não iria calçá-las. Nisso deu-se a confusão, pois irados os presentes se insurgiram a jogar objetos sobre o chulepento e a exigir que deixasse o trem. Luiz ao ver o furdunço e claro, se sentindo culpado, já que sua argucia o fez desvendar o “mistério” da inhaca, tentou apaziguar o possível conflito, ainda mais agravado, quando o chulepento revelou, que por isso” nós “paulistas somos revoltosos e queremos nossa liberdade sem precisar desse governo que está ai. Diante deste malfadado “pronunciamento”, ficou difícil conter a ira, e objetos passaram a ser lançados por todo lado num verdadeiro “salve-se quem puder”.
Um dos passageiros, conseguiu apanhar as botinas e as lançou pela janela fora trem, para a alegria das pessoas e alívio de Luiz e do chefe do trem e às lamúrias do chulepento pelo calçado.
Moral da história: Por causa de um “chulé” dava-se início, talvez, da revolução de 1932. Pelo menos o “tiro inicial”, cujo par de botinas foi a primeira vítima naquela atual conjuntura belicosa. Quanto a Luiz, foi ovacionado como herói por ter conseguido desvendar e achar o maldito chulé...