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Opinião
12/09/2013 10h38

Carona

Bebeto Andrade

por Bebeto Andrade,

de Cruzília/MG


A maioria das pessoas com quem converso já pegou carona algum dia, e o incrível é que todas têm uma história curiosa pra contar. Em ocasiões diferentes, três amigos diferentes garantem que foram recolhidos na estrada por uma bela e sedutora mulher, com quem tiveram um caso relâmpago, e as coincidências não terminam aí – os três juram que quem pagou a conta do motel foi ela. Descontados os exageros, a verdade é que pegar carona é uma espécie de aventura, com direito a todos os imprevistos da sorte.

Lá pelos anos 1970, corriam histórias cabeludas sobre carona e caroneiros. Havia a lenda da loira que aparecia seminua no asfalto, geralmente à noite, e que seria uma ótima companheira de viagem, se não estivesse morta. Diziam que ela se sentava no banco da frente do carro, o rosto coberto pelo cabelo, e quando mostrava a face... bem, era a face de um cadáver, com algodão nas narinas. Segundo a lenda, vários motoristas se apaixonaram por ela, mas nenhum deles voltou dessa viagem.

Nos anos 80, tornou-se quase uma obrigação dar carona, e até o governo andou incentivando a prática. Foi na época da guerra entre Irã e Iraque, quando o preço do combustível foi às alturas, e economizar virou mania nacional. Nas grandes cidades, grupos de amigos iam para o trabalho no mesmo automóvel, depois rachavam a despesa e o troco era gasto no bar. Também os estudantes formavam imensas filas nas estradas, em véspera de feriado, todos com uma mochila nas costas e pouco dinheiro no bolso.

Hoje muitas pessoas pedem carona pela internet, e já existe até um grupo de caroneiros de Cruzília no facebook. É claro que esse novo método facilita as coisas, mas não deixa de empanar o romantismo do polegar esticado. Afinal, bom mesmo é ir pra estrada meio sem destino, disposto a enfrentar sol e chuva e sem hora pra chegar em casa, só pra poder contar depois uma boa história.

Acima de tudo, o caroneiro é alguém que acredita na solidariedade humana, na capacidade que temos de ajudar o próximo. Em um mundo cada vez mais preso a valores materiais, ao desejo de posse e à indiferença, ele é exemplo de desapego e desprendimento, de coragem e fé na bondade alheia. Em síntese, o caroneiro vive de esperança e só depende de um simples gesto. E seu grande sonho é comprar um carro.

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