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Opinião
21/08/2014 20h13

Coleta seletiva

Bebeto Andrade

Por Bebeto Andrade

Assim que teve início a coleta seletiva de lixo em Cruzília, passei a olhar os bagulhos lá de casa com outros olhos. Pode parecer incrível, mas o lixo de repente revestiu-se de uma dignidade que não tinha antes, assumiu uma importância de que eu jamais suspeitara. Até a semana passada, eu simplesmente jogava as coisas inúteis numa sacola plástica, sem nenhuma preocupação com seu destino, e corria pra me livrar daquela prova incontestável do meu instinto poluidor. O lixo era apenas isto: lixo, rejeitos que não prestavam pra mais nada e ameaçavam a boa ordem da casa. Mas as coisas agora mudaram. Os intermináveis folhetos de propaganda que chegam por baixo da porta, e que antes eu não sabia onde esconder, agora têm um destino certo: a cesta de papel, plástico, metal e vidro. Aquela casca de banana, que até sábado passado eu jogava em qualquer sacola disponível, agora exige seu lugar ao sol, ou seja, a cesta de lixo orgânico, junto com outros restos de alimento. Até mesmo o lixo do banheiro, que a maioria das pesoas procura tratar com a máxima discrição, agora vai para a rua sem nenhum constrangimento, até orgulhoso por ter um espaço só seu. Em resumo, o lixo se organizou e em alguns casos tem a pretensão de ser até bonito (não me espantarei se alguém postar no facebook uma foto do seu próprio lixo). O maior problema, no entanto, foi descobrir em qual cesta ou sacola eu deveria descartar as minhas incontáveis guimbas ou bitucas de cigarro. A dúvida me assaltou já no primeiro dia, quando fui limpar o cinzeiro e aquela coisa ficou queimando a minha mão, exigindo uma resposta rápida. Onde jogar os restos do meu condenável prazer? Então telefonei para um amigo, formado em química, e ele me aconselhou a utilizar a cesta de papel, pois o filtro do cigarro é composto de acetato de celulose, o fumo contém matéria vegetal (fibras) e a camada externa também é de papel. Pra completar a explicação, ele me disse que os componentes da guimba são higroscópicos (!), isto é, absorvem água, o que facilita ainda mais a reciclagem. Como se vê, o lixo ganhou uma espécie de status científico, e ouvi dizer que já é tema de conversa de algumas famílias na hora do café. Em geral, a população apóia a medida adotada em Cruzília, e nunca é demais lembrar que todos serão beneficiados. É claro que há os renitentes, pessoas que não concordam com essa súbita preocupação com o lixo – do mesmo modo que muita gente não concordou com a aplicação de vacinas contra certas doenças, quando elas surgiram. O fato, no entanto, é que a coleta seletiva facilita a destinação do lixo e contribui enormemente para a preservação do meio ambiente, esse nosso meio ambiente tão mal tratado. Por fim, deixo uma sugestão: poderiam aplicar a mesma medida em relação a alguns políticos brasileiros, que talvez assim encontrassem seu verdadeiro lugar.

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