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Opinião
26/01/2012 09h34

Coluna - Na Fumaça do Trem Quanto o mundo é pequeno!

Quanto o mundo é pequeno!

Ao chegar à banca de jornal àquela manhã, sou abordado por um leitor a indagar-me sobre a resposta do anagrama das “cruzadinhas” da última edição do jornal Correio do Papagaio, fazendo alusão à questão 6 da horizontal. Sorrindo, o respondi que aguardasse o próximo número, pois veria ser bem fácil a palavra. Neste instante, um senhor que ali se posicionava, talvez a ouvir o nosso diálogo, toca-me ao braço, no que o atendi, perguntando se eu era também o cronista responsável pela coluna ‘Na fumaça do trem’, pois acreditava ser devido aos nomes das autorias, onde as cruzadinhas o jota é abreviado e na crônica tem o nome por escrito; José. Respondendo-o que sim, então se pôs a dizer que a muito me acompanha desde o antigo jornal; A notícia, onde ao alto da coluna destacava-se minha pequena foto, como era de praxe a todos que escreviam suas matérias e artigos. Seu Silva, como se apresentou, resolveu tecer comentários a uma das últimas crônicas sob o título: “A lenda da velha Filó”, a dizer que de fato existiu esta lenda em Itajubá e ele teve o “desprazer” de presenciar um episódio ocorrido na sua puberdade, em que testemunhou o ataque do fantasma a um dos seus colegas.

 

Dizia Seu Silva, oriundo de Itajubá, que se ouvia falar da tal Filó, a escrava Filomena que perambulava a muitos anos na estação e que teve sua morte ocorrida pelo rigoroso inverno que se abateu sobre a cidade. Com o passar do tempo, deu origem à lenda, a dizer que sua alma penada permanecia atrelada às dependências da estação férrea, com pessoas a jurarem tê-la visto vagando às sombras do complexo a varrer com sua vassoura de ramos de bambus.

 

Recordando-se, contou que certa ocasião unindo-se ao grupo de colegas de folguedos e peraltices infantis, resolveu desafiar a coragem no propósito de enfrentar o “dito” fantasma cruzando a plataforma escura dos armazéns e depósitos. Tirada a sorte entre eles para ver quem seria o primeiro, Silva se beneficiou por ser o último. Afinal se a alma atacasse alguém seria logo os iniciantes. Depois de todos transpassarem a cerca da via férrea, o primeiro a seguir, embora sobressaltado, pôs-se a caminhar sobre os trilhos sumindo na escuridão. O segundo foi logo a seguir se fazendo de forte. Todavia, quando o terceiro iniciou sua caminhada e mal foi engolido pelo negrume, ouviu-se um grito distante seguido por outros tantos acompanhados de passos em correria. O restante do grupo, quatro ao todo, ao ouvir aqueles gritos apavorantes, deixam o local em disparada a se atropelar  em transpor a cerca de arame farpado a causar rasgos às roupas e ferimentos em mãos, braços, pernas e desabalada correria pela rua até à frente da estação, onde aterrorizados e ofegantes se unem à espera dos três outros desventurados companheiros que enfrentavam o fantasma.

 

Com o tempo passando, os quatro “pivetes” sob grande tensão, aparvalhados, sem saber o paradeiro dos colegas, eis que apontam à rua conduzindo um deles apoiado pelos ombros de dois, os desafortunados “caça fantasmas”. Indo ao encontro os quatro “destemidos” se chegam e observam que os três se mantinham em total estado de choque, com os olhos arregalados, tremendo como vara verde, roupas rasgadas e sujas. Acolhendo-os, ajudaram a conduzir Geraldinho, que em quase estado de total prostração, alheio a tudo e todo borrado exalando o odor característico, segue caminhando amparado pelo grupo sob forte comoção a indagar dos outros dois o que ocorreu com Geraldinho.

 

Segundo a revelação, limitaram a dizer que apenas o encontraram caído entre os trilhos naquele estado, após escutarem os seus gritos. Na correria os companheiros se chocaram e juntos foram à procura de Geraldo, que o encontraram sem nada a proferir e o trouxeram até aqui.

 

Aos poucos já se recuperando, conseguiu articular palavra a dizer que a Filó é muito feia e tem um nariz igual ao de bruxa só faltando o chapéu comprido, vez que sua vassoura pendia ao ombro.

 

Os amigos se entreolharam e assustados, mais que depressa deixaram a praça rumando as suas casas convictos que a alma da velha Filó existe e que a lenda se mantém bem viva. Pelo menos para aquele grupo que tentou desafiá-la.

 

E assim, Seu Silva me proporcionou uma imensa satisfação, apresentando-me um subsídio a mais no episódio o qual tive a oportunidade de cronicá-lo intitulado “A lenda da velha Filó” na edição 738.

 

Veja leitor, como esse mundo é pequeno!!!

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