Cada vez que começa uma Copa do Mundo, lembro-me das outras Copas já vividas e dos acontecimentos de suas épocas.
E cada vez que termina uma delas, chega o medo de não estar vivo na próxima, ou das mudanças que podem acontecer em nossas vidas em quatro anos.
Ao pensar no assunto, reporto-me aos primeiros anos de minha existência e chego até o ano de 1954. Trago lembranças vagas, como se fosse uma sombra, das imediações da antiga Casa Gato Preto e do Bar Americana, com algumas pessoas ouvindo jogos em alto-falantes e nada mais... Mesmo assim, é uma lembrança incerta.
Em 1958, escutei alguns jogos no colégio interno, em Varginha. Também se usava colocar em alto-falantes para que todos ouvissem. Lembro-me perfeitamente do jogo Brasil 5 X 2 França.
Quando chegou a grande decisão, no dia 29 de junho, eu já estava de férias em São Lourenço e a família reuniu-se ao redor de um grande rádio e que existe até hoje entre as lembranças do passado. Até meu pai, que não era chegado a futebol, estava escutando. Logo comemorávamos felizes, o primeiro campeonato mundial do Brasil, ao vencer a Suécia na casa do adversário, também por 5 a 2. As transmissões via rádio ainda tinham, em determinados momentos, muito ruído e interferência.
Da Copa de 1962, lembro-me muito bem. Até hoje tenho anotados em tabelas e em cadernos, todos os jogos. Morava no Hotel Maduro, em Varginha e ouvi a quase todos os jogos no alto-falante de lá. No último jogo, contra a Tchecoslováquia, quando vencemos de 3 a 1 e ficamos com o bicampeonato, preferi ir até a casa de uns colegas, gêmeos, Marcos e Márcio Paiva Reis Teixeira e lá ouvir o jogo. Ao final, assisti à maior comemoração de um título de que tenho notícias até hoje. Foi uma festa e tanto, nas imediações do Cine Rio Branco, na avenida do mesmo nome. Foram momentos dos quais nunca me esqueci e nem me esquecerei. De tanto gritar, passei uma semana sem falar, como aconteceriam diversas vezes depois, em minha vida, ao comemorar as vitórias do Flamengo, em especial e as do Brasil.
Escusado dizer que não existe hipótese de que eu torça contra o Flamengo. Nem mesmo se fosse possível haver uma decisão de um título mundial entre o Brasil e o Flamengo ou até mesmo entre o Líbano, que amo tanto, e o Flamengo.
No ano de 1966, áureos tempos de juventude, demos um vexame, já esperado.
Poucos dias antes de iniciar-se a Copa do Mundo, Fernando Bandeira surpreendeu-se quando tomávamos um cafezinho na Americana. Afirmei a ele que naquele ano não havia possibilidade de sermos campeões, como não fomos. Aquele fora o ano da desorganização total.
Mas, fomos recompensados com o tricampeonato, na Copa seguinte, com magistral vitória sobre a Itália, na final. Até hoje alguns acham que aquele foi o melhor time brasileiro de todos os tempos. Jogava por música.
Colocamo-nos em terceiro e quarto lugar nas duas Copas seguintes, mas não sei em que ordem. Em, 1978 o Peru entregou o jogo para a Argentina e caímos fora por causa disto. Depois, provou-se que os jogadores haviam sido mesmo comprados. Um vexame! Nesse ano houve um jogo a que assisti na TV, participando de um churrasco em Angra dos Reis. Quanta saudade daqueles tempos!
Nos anos de 1982 e 1986 fomos eliminados de maneira trágica e sem merecermos, principalmente no primeiro deles. Tínhamos uma das melhores seleções de nossa história. Costumo denominar a nossa derrota para a Itália em 1982, como a maior decepção de minha vida de torcedor fanático. Assim como a derrota de Leonel Brizola, nas eleições presidenciais de 1989 foi a minha maior decepção política. Naquele 5 de julho de 1982 a Nação parou para chorar, como deve ter feito na derrota para os uruguaios em 1950.
Após pífia participação na Copa de 1990, voltamos a ganhar um título em 1994, empatando com a Itália e ganhando nos pênaltis. Aí, minha vida já tinha mudado muito. Já assistia os jogos com meus filhos queridos e já comemorávamos juntos as vitórias. Agora tudo tem mais sabor, pois, com a alegria deles fico mais feliz. Meus filhos se surpreenderam com meus gritos de alegria, pois nunca haviam testemunhado aquilo.
Em 1998 fizemos um jogo fraquíssimo contra a França e perdemos merecidamente.
Já o pentacampeonato de 2002 foi numa decisão pela manhã, como fora em 1958. Em seguida à nossa conquista, tive a curiosidade de ir até a Igreja apenas para ver se havia muitas pessoas na missa das dez. Quase ninguém!
Confesso que me lembro pouco das duas últimas Copas, apenas sei que o Brasil não jogou nada bem. Penso que na Copa de 2014, que finalmente será aqui, vamos perder de novo, nem mesmo chegando a uma decisão. O futebol que se joga não dá pare termos confiança num título.
Durante anos e anos sonhei que um dia fosse acompanhar, ao vivo uma Copa do Mundo ou umas Olimpíadas. Hoje este sonho não tem mais chance de ser realizado. O tumulto nestas ocasiões é tão grande, que acabei desistindo. Existem coisas na vida que chegam na hora errada. Se não me falta condição para participar de uma destas festas do esporte, falta-me disposição para enfrentar certos tipos de problemas. Parece uma frase que li, certa vez, numa sessão humorística da antiga revista O Cruzeiro:
O triste da vida é que quando a criança cresce e tem dinheiro para comprar todas as balas do mundo, ela não gosta mais de bala...