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Opinião
28/11/2013 17h03

Crimes perfeitos

Bebeto Andrade

por Bebeto Andrade,

de Cruzília/MG

 

Mal informado é quem acha que não existem crimes perfeitos. Cheguei a esta conclusão depois que um amigo soltou, digamos, um pum no elevador e não o acusaram da grave ofensa às narinas alheias. Na verdade, todos os dias somos vítimas e autores de pequenos delitos, algumas contravenções e grossas barbaridades, sem falar da cara de pau ao negar os fatos, e no entanto ninguém é detido ou levado a julgamento por isso. Se o herói é aquele que não teve tempo de fugir, honesto é o cidadão que (ainda) não foi pego em flagrante. É claro que a sociedade não é um bando de malfeitores disfarçados, mas não se pode dizer que seja o contrário, uma espécie de união internacional em prol da idoneidade. A mesma senhora que reclama do peso e do preço do tomate na feira, sorri furtivamente quando o feirante se esquece de cobrar a rúcula ou a cebolinha. A indignação se transforma em furor civil se o dono do bar cobra um chope a mais, porém o indignado dificilmente irá protestar contra um troco a maior no supermercado. É a tal história: a ética do gato é caçar o rato, mas ela não o impede de comer o inocente pássaro. No dia do elevador meu amigo pensou em se acusar, em dizer que, sim, ele havia ofendido os ínclitos olfatos presentes, mas acabou deixando a coisa no ar. De resto, nem foi um crime tão perfeito assim, pois gente há que faz pior e o odor se espalho pelo país inteiro, principalmente quando vem de Brasília. Nesse aspecto, meu velho amigo não obteve nenhum benefício e ficou sinceramente envergonhado, ao passo que criminosos de mais grosso calibre continuam por aí, lépidos e fagueiros e, o que é pior, cada vez mais perfumados. O fato é que crimes perfeitos existem e os suspeitos são os mesmos de sempre, embora nem Sherlock Holmes possa apontar os culpados. Muitos são praticados à luz do dia e à vista de todos, com direito a cobertura jornalística, enquanto as vítimas assistem impotentes embasbacadas. Contrariando a regra, nesses casos os criminosos nunca voltam ao local do crime, porque em verdade nem saem de lá. Querem um exemplo? As votações no Congresso para cassação de mandato continuam secretas. Perfeito.

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