José Francisco
Mattos e Silva
Bom Jardim de Minas
Tenho ouvido nos últimos tempos rumores, confesso que não suporto rumores, sobretudo rumores políticos, lembrando sempre das palavras do nosso velho Ulisses Guimarães de que na política “só os loucos e os incompetentes não sabem que, na política, até a raiva é combinada”.
Meu amigo leitor pode perguntar o que tem haver rumores com o título desta matéria, há rumores de ditadura no Brasil, há rumores de golpe de Estado no Brasil, há rumores de marchas da família com Deus pela pátria, há rumores de continuísmo perpetuo de partidos no poder, há rumores, rumores e mais rumores, no entanto, não há, infelizmente, ação, apenas ruído de vozes, só não quero ouvir falar de ditadura, seja ela civil ou militar, somos um Estado Democrático de Direito e é esta ordem que deve ser mantida, os que conspiram contra ela é que são os verdadeiros algozes, o regime jurídico constitucional não.
Novamente peço ajuda ao Dr. Ulisses, “é necessário ouvir as vozes roucas das ruas”, então ouçamos com os olhos, as ruas já sussurram há tempos: as revoltas de junho de 2013 devem ser interpretadas como um movimento que fez nascer no Brasil um terremoto como li em um semanário francês de que o movimento causava “perturbação a ordem de um país que parecia viver uma espécie de vertigem benfazeja de prosperidade e paz, e fez emergir não uma, mas uma infinidade de agendas mal resolvidas, contradições e paradoxos. Mas, sobretudo, fez renascer entre os brasileiros a utopia de um país que não quer ser apenas próspero, mas cidadão”.
Igualmente, os constantes debates sociais e políticos nacionais apontam para uma mudança de rumo: o Brasil esta cansado de assistir, diariamente, a velha cantilena tupiniquim da corrupção travestida de conveniência, e que não venha ninguém falar que isso é fruto da mídia e muito menos invenção da direita ou da esquerda. O brasileiro não é bobo e somos conhecedores, mesmo com nosso pouca instrução cultural e política, que o mal do Brasil é a ditadura da corrupção esta sim que vem assolando nossa pátria deste dos tempos em que as capitanias hereditárias eram leiloadas para os que podiam explorar mais o pau-brasil até o recente episódio da compra da refinaria de Pasadena, na Califórnia (EUA), se bem que tudo sempre foi rumores...
Os discursos de hoje, misturados com os rumores, ou os rumores misturados com os discursos, mostram de forma nítida que historicamente temos uma resistência ao cumprimento da ordem jurídica constitucional e o pior é que todos aqueles que tentaram demonstrar isso publicamente foram ou são criminalizados ou discriminados de alguma forma, recentemente o Ministro Joaquim Barbosa que tem sido alvo de constantes ataques na inócua tentativa de transformar o Magistrado em réu, na defesa de réus, discurso que distorce a ordem jurídica constitucional conquistada em 1988 ao tentar enganar o povo de que o sistema atual não coíbe e é tolerante com corrupções em detrimento de outras, vamos ter cuidado com a ditadura.
Alfim, voltando às vozes do Dr. Ulisses, pouca diferença temos entre a ditadura de Vargas ou a ditadura Militar: ditadura no Brasil nunca mais, seja ela civil ou militar, hoje não vamos tolerar ditaduras com bandeiras de outras siglas. Queremos sim, todas as forças, todos os esforços, todo o consenso sempre amparado no sagrado direito da liberdade para alimentar o desejo de cidadania. Que as cidades sejam rebeldes, que o povo seja rebelde, que a política seja rebelde, mas que seja a sadia rebeldia da consciência de que é preciso mudar os passos e que no Brasil só devemos marchar para o progresso das instituições democráticas e constitucionais.