Por José Luiz Ayres
Ao deixarmos no estacionamento do hotel o carro, depois de agradável noitada em aconchegante trattoria a ouvir gostoso teclado, em meio a madrugada, no que cruzávamos o jardim, um baque surdo quebrou o silêncio, e nos assustou ao notar que adveio de uma silhueta que se esgueirava, escondendo às sombras das folhagens e arbustos, após observarmos que uma janela se fechou.
Preocupados e apreensivos, nos detivemos, quando o vulto deixou o local às pressas, se ajeitando, e penetrou no interior do hotel. Reconhecendo o cidadão, nos tranquilizamos, embora aquele procedimento estranho nos tenha deixado um tanto surpresos, confusos e, por que não, com a pulga atrás da orelha...
Pela manhã, ao passar na portaria em direção ao desjejum, um bate-boca aconte¬cia entre o gerente e um hóspede que, irritado, mostrava-se indignado, a exigir explicações pela negligência do hotel, que se recusava a assumir responsabili-dades pelo ato, supostamente, praticado por seus serviçais.
Concluído o “breakfast”, ao retornarmos, vimos que o entrevero continuava ainda mais áspero, com o gerente a engolir sapos e o gorducho careca a esbravejar. Só que agora exibia uma cueca azul de bolinhas brancas, a qual, pelo que percebe-mos, dado o diálogo acirrado, não lhe pertencia. Inclusive pelo tamanho.
Pelo visto, dada a ênfase, exigia esclarecimentos em como a peça íntima foi parar sobre sua cama, embaixo da colcha, e dizia que, em razão do estranho ocorrido, sua mulher, “desconfiada”, pedia explicações sobre o aparecimento ali da cue¬ca, colocando em dúvida sua heterossexualidade...
Quando minha mulher, sorrindo, nos lembrou da cena da madrugada, concluímos que o hóspede visto nu no jardim a se esgueirar era sem contestação o pivô da encrenca. Matamos a enigmática charada!
Possivelmente, na pressa, o “Casanova”, ao deixar o quarto da amada pela janela, razão do baque surdo ouvido na madrugada, esqueceu ou deixou cair a cueca, pois deve ter sido surpreendido pelo marido gordo que exigia explicações do desconsertado gerente, que àquela noite talvez mais cedo retornou da habitual rodada do jogo de pocker que sempre frequentava.
Encontrada a peça, a mulher, óbvio, malandramente, astuta, resolveu inverter as coisas, cobrando do marido explicações sobre a sua “masculinidade bissexual”...
Lógico que tal atitude veio a causar problemas espinhosos ao nosso “chifrado”, não atinando para a esperteza da mulher em livrar-se do adultério praticado...
Moral da história: engolindo sapos, o gerente, assumindo a responsabilidade, regurgitou as explicações desejadas, trazendo a paz entre o casal sob um “azul” salpicado de bolinhas brancas...
Ah... Esses “turistas mansos”, quando pelo “machismo” exigem providências enérgicas pra lá de jocosas, cujas explicações são importantes para provar o quanto de machões são constituídos, não passam mansamente de uns passivos acima de qualquer suspeita, a nos oferecerem momentos deliciosamente pitorescos...